Serão os óleos essenciais o segredo para frutas mais saudáveis?

Embora o controlo de doenças em frutos e alimentos orgânicos não seja fácil de assegurar, uma equipa de investigadores da Universidade do Hawai’i está a testar uma possibilidade inovadora. De que forma poderão os óleos essenciais constituir uma solução e ajudar a fazer da produção de frutos sem recurso a pesticidas e a químicos uma alternativa viável à fruticultura convencional?

Encontrar maneiras de melhorar a preservação, a viabilidade e a rentabilidade a longo prazo da produção de fruta através de métodos orgânicos. O desafio está na base de um fundo, no valor de dois milhões de dólares norte-americanos, atribuído pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América a um grupo de 15 investigadores que vão estudar  o contributo dos óleos essenciais para a eliminação de pragas e para a afirmação da fruticultura orgânica como alternativa a métodos tradicionais que usam e abusam do recurso a fungicidas e pesticidas.

Entre os investigadores a quem foi confiada a missão está Andrea Kawabata, especialista da Faculdade de Agricultura Tropical da Universidade do Hawai’i, que vai ser responsável por testar no arquipélago do Pacífico algumas das tarefas associadas ao projecto.

O estudo, uma extensa investigação denominada “Segurança da planta, benefícios para a horticultura e eficácia em doenças dos óleos essenciais para uso em colheitas de frutas cultivadas organicamente: da quinta ao consumidor”, tenciona avaliar a eficácia de alguns óleos essenciais como agentes fungicidas, explicou a patologista botânica Lisa Keith, em declarações ao jornal Hawai’i Tribune Herald:  “A ideia de pesquisar óleos essenciais como fungicida surgiu porque há muito poucos fungicidas que se aplicam a plantações de alimentos tropicais ou, de uma forma geral, a qualquer alimento cultivado organicamente”, defendeu a especialista, que trabalha para o Serviço de Investigação Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em Hilo, uma fértil região agrícola situada no sopé dos vulcões Mauna Loa e Mauna Kea. “Houve alguma investigação feita em laboratório, mas a pesquisa de campo é praticamente inexistente.”

O Hawaí’i e quatro outros estados – a Flórida, a Carolina do Sul, a Geórgia e a Califórnia – estão a avaliar a eficácia dos óleos essenciais vegetais certificados organicamente sobre os principais agentes patogénicos a que as frutas tropicais como a manga, a papaia, abacates ou anonas estão expostas.

Os investigadores estão a estudar formas de combater os patógenos que causam doenças fúngicas, como a verrugose nos abacates, o oídio ou a antracnose em plantações de frutos, quer nas zonas tropicais, quer nas zonas temperadas: “Quando se trata de combater estas doenças com óleos essenciais, não há uma única receita miraculosa para todas as doenças”, explica Keith. “Embora um óleo possa funcionar para um fungo em concreto, pode não ter qualquer efeito no que diz respeito a 25 outras ameaças.”

Os investigadores da Faculdade de Agricultura Tropical, bem como professores de de algumas outras unidades orgânicas da Universidade do Hawai’i estão a trabalhar em estreita colaboração com produtores de manga e de abacate que elegeram métodos de produção cem por cento orgânicos para levar a bom porto a investigação que estão a conduzir tendo por base os óleos essenciais:

“É algo que pode vir a ter um grande impacto sobre os produtores, porque o nosso objectivo a longo prazo é a rentabilidade e a sustentabilidade”, assegura Lisa Keith. “Em termos específicos, esta investigação pode ajudar melhorar os índices de produção local, reduzindo o volume de importações de frutas orgânicas.”

Soluções mais sustentáveis

A investigação vai ter por base, numa primeira fase, trabalhos laboratoriais com o propósito de verificar se os óleos essenciais são eficazes contra os patógenos que se encontram com maior frequência nas explorações de fruticultura. Numa segunda fase, os produtores vão trabalhar em colaboração com as equipas de investigação com o propósito de determinar a melhor taxa de diluição e o tempo de aplicação dos óleos testados.

“Alguns agentes patogénicos são visíveis nas explorações frutícolas, outros manifestam-se durante a pós-colheita, algumas infecções surgem ainda na fase de maturação dos frutos, mas só se tornam perceptíveis na hora da colheita”, explica Lisa Keith. “Todas as nossas investigações vão tentar determinar se os óleos essenciais melhoram ou não a vida útil das frutas orgânicas.”

Actualmente, os produtores recorrem a métodos, que geralmente contêm cobre ou enxofre, para combater pragas e doenças, mas nenhuma das soluções se mostrou até ao momento sustentáveis ​​ou tão ecológicas como os óleos essenciais, dizem os investigadores: “Os investigadores estão sempre à procura de outras ferramentas para tornar os métodos de produção mais seguras para o meio ambiente e que ao mesmo tempo também possam ajudar a controlar melhor as pragas e as doenças com as quais os produtores lidam”, salienta, por sua vez, Andrea Kawabata. “Com alguma sorte, esta investigação vai ajudar-nos a encontrar outra ferramenta a que os agricultores podem recorrer.”

O objectivo da investigação e do uso de óleos essenciais é que os produtores possam melhorar a sua competitividade no mercado através da adopção das práticas orgânicas preconizadas pelos investigadores a partir dos dados recolhidos.

O projeto está actualmente a dar os primeiros passos e terá a duração de quatro anos. Embora ainda não tenham recolhido dados conclusivos, os investigadores não escondem o optimismo: “Com sorte, podemos encontrar um método que funcione melhor para os agricultores orgânicos”, disse Kawabata. “Mas mesmo que assim não seja, podemos aprender com estes projectos e talvez encontrar uma maneira de aplicar as nossas descobertas a  outras realidades.

“Aquilo que vimos noutros estados e os dados que recolhemos aqui até agora mostram que esta é uma possibilidade muito promissora”, remata Lisa Keith.

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