
O navio-escola Sagres iniciou este domingo uma viagem de circum-navegação no âmbito das celebrações do quinto-centenário da primeira volta ao mundo, cumprida por Fernão de Magalhães e pelo espanhol Sebastian del Cano. A iniciativa vai levar a mais emblemática embarcação portuguesa a mais de duas dezenas de portos em 19 países. Macau fica de fora do roteiro do navio-escola.
São 371 dias que têm como pontos altos a passagem por mais de duas dezenas de portos, o desenvolvimento de projectos científicos e a passagem pela capital japonesa, onde a embarcação se vai apresentar como “Casa de Portugal” nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
O navio-escola Sagres largou este domingo de Lisboa para uma volta ao mundo que se insere nas celebrações do quinto centenário da viagem de circum-navegação que celebrizou Fernão de Magalhães. A missão vai levar a embarcação a portos de 19 países, incluindo a República Popular da China, mas Macau não integra o roteiro que o emblemático navio-escola vai cumprir ao longo dos próximos doze meses. A embarcação deverá atracar em Xangai a 7 de Julho, proveniente de Cebu, onde o navegador português foi morto a 27 de Abril de 1521.
No Sagres encontram-se 142 elementos de guarnição, entre os quais quatro mulheres, bem como 50 instruendos da Aporvela – Associação Portuguesa do Treino de Vela e dois investigadores do projeto SAIL. Antes das 10:00 da manhã de domingo, horário de Portugal, várias centenas de pessoas concentraram-se no Terminal Fluvial de Santa Apolónia para se despedir da tripulação.
Pouco depois, iniciou-se a cerimónia de entrega da bandeira portuguesa que vai ser usada nos Jogos Olímpicos de Tóquio, uma iniciativa a que assistiu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O chede de Estado português foi recebido com aplausos dos familiares presentes. Na cerimónia marcaram ainda presença o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, bem como os secretários de Estado da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches, e da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo.
Terminada a cerimónia e o momento musical que lhe sucedeu, seguiu-se a largada do Sagres. A tripulação manipulou as espias (cabos de amarração ou atracção), utilizou as malaguetas (cavilhas ou pinos onde estão amarrados os cabos), içou as velas, controlou os lemes e a embarcação seguiu com o vento a favor. O navio-escola tem a sua primeira paragem oficial em Tenerife, nas ilhas Canárias, em Espanha.
Recordar Magalhães
“Magalhães desfez a quadratura do círculo. Deu-nos um mundo redondo e abriu horizontes a novos mundos, povos, culturas, motivado pela riqueza das especiarias das índias e pela possibilidade do comércio em que o cravinho, não o nosso ministro da Defesa, mas o arbusto de sementes aromáticas, providenciava o incentivo para uma economia mundial emergente”, notou Ricardo Serrão Santos, durante o seu discurso a bordo.
A viagem que ontem se iniciou levou a um período de preparação superior a um ano e meio, envolvendo aspectos logísticos como a organização dos materiais, do navio e dos próprios marinheiros, tal como explicou aos jornalistas o comandante do navio-escola.
António Maurício Camilo admitiu ainda a possibilidade de ao longo da viagem terem de enfrentar “situações anómalas”, decorrentes das alterações climáticas, mas ressalvou que a tripulação está “preparada para isso”.
A segunda tenente Helena Bouças explicou à agência Lusa que a missão envolve uma grande preparação pessoal e logística, que obriga, por exemplo, a tripulação a levar consigo “apenas o mais importante”, tendo em conta a falta de espaço decorrente do número de elementos a bordo.
Já no que se refere aos principais desafios que vão enfrentar, Helena Bouças apontou o Cabo Horn, na América do Sul, “pela sua história” e pelas exigências da navegação na região.
Para o comandante Maurício Camilo, os principais pontos altos da viagem são a chegada a Tóquio, para entregar a bandeira portuguesa à delegação olímpica na capital japonesa, onde, numa primeira fase, o navio se vai apresentar como “a Casa de Portugal”.
De cidade aberta a porto fechado

Além disto, ao longo da viagem e pelos vários portos onde a embarcação vai atracar, são esperadas muitas pessoas dispostas a visitar o navio e a conhecer o que nele está a ser desenvolvido, notou. Macau não integra o rol dos portos que a embarcação vai visitar ao longo de um ano. Para a decisão de excluir o território do roteiro dos portos a visitar poderá contribuído a decisão, tomada por Pequim em Agosto de 2010, de interditar a entrada do navio-escola no porto de Macau há uma década. Na altura, a República Popular da China justificou a decisão com a não autorização de atracagem a navios de guerra.
A interdição, imposta por Pequim, constituiu na altura uma situação inédita para embarcações da Marinha Portuguesa, tratando-se da primeira vez que um navio português foi barrado num porto.
Macau era até 2010 um dos portos mais visitados pelo Sagres. Antes do regresso do território à soberania chinesa, a 20 de Dezembro de 1999, o navio-escola visitou Macau por quatro ocasiões. A primeira foi em Janeiro de 1979. O Sagres regressou ao Delta do Rio da Pérola quatro anos depois, em Dezembro de 1983 e esteve pela última vez em Macau em Novembro de 1993.
O navio-escola Sagres vai passar por mais de 20 portos de 19 países e territórios diferentes.
Depois da primeira paragem em Tenerife, seguem-se a cidade da Praia (19 de Janeiro), Rio de Janeiro, Brasil (10 de Fevereiro), Cidade do Cabo, África do Sul (27 de Março), Maputo (9 de Abril), Jakarta (29 de Maio), Tóquio (18 de Julho), Honolulu (Hawai’i), nos Estados Unidos da América (27 de Agosto) e Cartagena das Índias, Colômbia (5 de Dezembro).
A 30 de Dezembro de 2020, o navio-escola Sagres chega a Portugal, mais precisamente, a Ponta Delgada, nos Açores, estando o regresso a Lisboa agendado para 10 de Janeiro de 2021.
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