Inteligência artificial. Uma ameaça para o ambiente?

Ilustração: Steve Johnson/Unsplash

O desenvolvimento da inteligência artificial (IA) generativa – a inteligência artificial capaz de criar novos conteúdos e ideias – faz-se acompanhar por preocupações cada vez maiores sobre o impacto que os centros de dados e as centrais de computação necessárias para operar ferramentas como o ChatGPT ou o novíssimo DeepSeek têm sobre o ambiente. A problemática dá o mote a uma cimeira internacional que vai decorrer em Paris este mês. Do consumo de electricidade ao carbono gerado, passando por quantidades significativas de lixo electrónico, eis cinco cifras que revelam as repercussões que a Inteligência Artificial pode ter sobre o equilíbrio e a saúde do planeta.

Consumo dez vezes superior ao do Google

Cada pesquisa no ChatGPT – o chatbot da empresa OpenAI que pode gerar todo o tipo de conteúdo com uma simples solicitação – consome 2,9 Watts-hora de electricidade. O montante é 10 vezes superior ao gasto de uma pesquisa no Google, de acordo com as estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA).

Actualmente, a OpenAI reivindica 300 milhões de utilizadores semanais, com cerca de mil milhões de solicitações enviadas diariamente. Além do ChatGPT, que popularizou a IA generativa depois de ter sido lançado em 2022, há uma grande variedade de bots de conversação.

Só na França, por exemplo, quase 70 por cento dos jovens com idade compreendida entre os 18 e os 24 anos fazem uso essa tecnologia, de acordo com uma sondagem do instituto de pesquisa Ifop.

Três por cento do consumo de electricidade em 2030

Os centros de dados, que armazenam as informações e fornecem a enorme capacidade de computação exigida pela IA, são a pedra basilar da inteligência artificial generativa.

Em 2023, estas infraestruturas digitais foram responsáveis por quase 1,4 por cento do consumo global de electricidade, de acordo com um estudo conduzido pela Deloitte.

Com o rápido crescimento dos utilizadores, o número pode chegar a 3 por cento dos gastos globais até 2030, cerca de mil TWh, o consumo anual combinado da França e da Alemanha, diz a empresa de consultadoria.

A AIE prevê um aumento de mais de 75 por cento na procura de electricidade por parte destes centros até 2026, impulsionado pela Inteligência Artificial e pela mineração de criptomoedas.

A este ritmo, 40 por cento dos data centers dedicados à inteligência artificial não receberão fornecimento de energia suficiente até 2027, de acordo com um estudo da empresa norte-americana Gartner.

 

Trezentas toneladas de dióxido de carbono

O aperfeiçoamento de um grande modelo de linguagem de Inteligência Artificial gera cerca de 300 toneladas de CO2, o equivalente a 125 voos de ida e volta entre Nova Iorque e Pequim, estimaram investigadores da universidade norte-americana de Massachusetts Amherst em 2019.

Os especialistas de Oxford chegaram a uma conclusão semelhante em 2021, calculando que uma única sessão de treino do GPT-3, o modelo OpenAI que sustenta o ChatGPT, produziu 224 toneladas de dióxido de carbono.

Para progredir, as empresas necessitam de treinar e de preparar milhares de modelos. No entanto, é difícil avaliar com precisão as emissões de gases de efeito estufa causadas pela IA generativa.

Especialistas e instituições internacionais defendem que as informações sobre as condições de fabricação desses modelos e sobre os data centers são escassas e que há uma lacuna no que toca às regras de averiguação do impacto ambiental à escala global.

Quase sete mil milhões de metros cúbicos de água até 2027

A operação dos centros de dados requer sistemas de arrefecimento com uso intensivo de água. Por exemplo, o GPT-3 consome cerca de meio litro de água para gerar entre 10 e 50 respostas, de acordo com uma estimativa conservadora feita por investigadores da Universidade da Califórnia-Riverside e da Universidade do Texas-Arlington.

O estudo conduzido pelas duas instituições de ensino superior, publicado em 2023, estimou que o aumento da procura de plataformas de inteligência artificial vai exigir o consumo de 4,2 a 6,6 mil milhões de metros cúbicos de água em 2027, o que representa entre quatro a seis vezes o consumo anual da Dinamarca.

Mais de duas mil e quinhentas toneladas de lixo electrónico

A inteligência artificial generativa também gerou 2.600 toneladas de lixo elecrónico em 2023, como placas gráficas, servidores ou cartões de memória, de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Computational Science.

O número pode aumentar para 2,5 milhões de toneladas até 2030, uma quantidade equivalente a 13,3 mil milhões de smartphones, de acordo com o mesmo estudo.

Além disso, os servidores e chips de computador necessários para desenvolver a Inteligência Artificial tornam necessário o recurso a metais raros, cuja extracção intensiva, especialmente em África, é realizada por meio de processos poluentes, lembra a Agência Francesa de Transição Ecológica.

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