
Duas empresas de biotecnologia dos Estados Unidos anunciaram que receberam luz verde da Food and Drug Administration – a agência norte-americana que supervisiona as questões de saúde pública – para realizar testes clínicos com rins de porcos para transplantes em humanos.
Desde 2021, a United Therapeutics e a eGenesis conduzem experiências com os chamados xenotransplantes. As duas empresas têm vindo a testar a transplantação de rins de porcos em humanos, inicialmente com pacientes em morte cerebral e mais recentemente com indivíduos vivos.
Com o recurso a órgão de animais, os investigadores propõem-se dar uma resposta à escassez de órgãos para transplantes. Mais de cem mil pessoas nos Estados Unidos estão na lista de espera para transplantes e, entre elas, há mais de 90 mil que aguardam por um rim.
A autorização para a United Therapeutics, anunciada na terça-feira pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos, vai permitir que a empresa avance no desenvolvimento de tecnologia própria para obter licenciamento da prática, caso os testes que tem vindo a conduzir sejam bem-sucedidos.
A autorização é um “passo significativo na nossa missão incessante de expandir a disponibilidade de órgãos para transplantes”, disse o vice-presidente-executivo da empresa, Leigh Peterson, citado pelas agências internacionais.
Os testes clínicos serão conduzidos inicialmente em seis pacientes com insuficiência renal terminal até chegar a 50 pessoas, detalhou, em nota, a United Therapeutics. O primeiro dos cinquenta transplantes está previsto para meados do conrrente ano.
Já a eGenesis informou ter recebido a autorização da FDA em Dezembro para um estudo em três pacientes: “A investigação vai avaliar pacientes com insuficiência real, que estão na lista de espera, mas que têm baixa probabilidade de receber a oferta de um doador falecido num prazo de cinco anos”, explicou a companhia.
O xenotransplante – ou seja, transplantes interespécies, de uma espécie para outra – é uma velha batalha da ciência, mas ainda sem resultados objectivas.
As primeiras experiências, feitas com recurso a primatas fracassaram, mas os avanços no domínio da edição genética e gestão do sistema imunológico deixam o objectivo cada vez mais próximo.
Os porcos acabaram por se revelar doadores ideais: crescem rápido, reproduzem-se em ninhadas numerosas e fazem parte da alimentação humana.
A United Therapeutics informou que os pacientes que se submetam aos testes terão acompanhamento por toda a vida. A empresa compromete-se a avaliar as taxas de sobrevivência, a função do rim e o risco de infecções zoonóticas, isto é, doenças transmitidas de animais para humanos.
A 5 de Novembro de 2024, Towana Looney, uma americana de 53 anos do Alabama, tornou-se a terceira pessoa a receber um transplante de rim suíno.
Looney é a única sobrevivente do procedimento, com pouco mais de 70 dias de vida após o transplante. David Bennett, de Maryland, recebeu o coração de um porco em 2022 e sobreviveu por 60 dias.
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