O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou na quinta-feira a sua candidatura à reeleição nas presidenciais de Abril, numa altura em que os seus adversários temem que a ofensiva russa na Ucrânia possa ofuscar a campanha e abra caminho para um segundo mandato.
“Sou candidato para criar com vocês uma resposta francesa e europeia única aos desafios do século”, escreveu Macron numa “Carta aos franceses”, publicada na capa de vários meios de comunicação social.
A tradição manda que os presidentes em exercício esperem até ao último momento para anunciar se disputarão a reeleição, mas o conflito obrigou o actual inquilino do Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, a adiar os seus planos até a véspera do prazo final.
Macron tinha vinculado o anúncio a uma melhoria na situação sanitária e a sua mediação para diminuir a crise entre Moscovo e Kiev. O primeiro objectivo foi alcançado. No segundo caso, a Rússia invadiu a Ucrânia.
Apesar do fracasso diplomático, o líder centrista continua a liderar as intenções de voto, seguido pelos candidatos de extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour, da candidata da direita tradicional, Valérie Pécresse, e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
As últimas sondagens dão ao presidente entre 25 e 28 por cento das intenções de voto na primeira volta marcada para 10 de Abril, à frente de Le Pen (16 a 17 por cento), Zemmour (14 por cento), Pécresse (12 a 13 por cento) e Mélenchon (10,5 a 12,5 por cento).
Em 2017, Macron tornou-se o mais jovem presidente eleito da história de França, aos 39 anos, e agora pode ser o primeiro a renovar o seu mandato desde o conservador Jacques Chirac (1995-2007) na segunda volta, marcada para 24 de Abril, de acordo com as sondagens.
A campanha eleitoral é, no entanto, atípica. Inicialmente liderada pela política migratória e depois pelo medo da perda do poder de compra, agora está praticamente monopolizada pela guerra na Ucrânia.
Isso faz com que os seus rivais temam que o presidente evite discutir o conteúdo da campanha eleitoral. Macron “deve um balanço [sobre o seu mandato] aos franceses”, enfatizou Le Pen.
Na terça-feira , o presidente do Senado, Gérard Larcher, alertou para o risco de uma “crise de legitimidade” de um possível novo mandato de Macron, sem um debate real sobre o seu balanço e o seu projecto político: “Logicamente, não poderei fazer campanha como gostaria, devido ao contexto”, escreveu Macron na carta, comprometendo-se, no entanto, a “explicar” o seu projecto “com clareza”.
“Trabalhar mais”
Os avisos não são triviais. Macron quase não tinha experiência política quando foi eleito em 2017, meses depois de servir como ministro da Economia do seu antecessor, o socialista François Hollande. O seu impulso reformista colidiu com uma série de protestos sociais.
A crise dos “coletes amarelos” a meio do mandato foi a mais importante. Este protesto das classes populares obrigou-o a reverter o aumento dos preços dos combustíveis e, desde então, tem tido o cuidado de limitar o aumento da energia.
Durante uma entrevista em Dezembro passado sobre o seu mandato, o líder liberal, que teve de deixar para trás alguns de seus postulados para tirar o país da recessão económica causada pelo coronavírus em 2020, reconheceu que um único mandato não era suficiente.
A sua aposta para os próximos cinco anos passa por obter a “independência” da França com investimentos maciços nos sectores industrial e energético, especialmente no sector nuclear, potencializando a transição ecológica e digital. O Tribunal de Contas já avisou o governo, porém, que terá de fazer reformas estruturais e cortes para sanar as contas públicas, sobretudo quando o Executivo prevê uma dívida de 113 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e um déficit de cinco por cento no final do ano.
Macron já antecipou que, entre seus planos, está retomar a polémica reforma da Previdência, paralisada pela pandemia de coronavírus e que pode provocar novas manifestações massivas: “Não há independência sem força económica. Portanto, devemos trabalhar mais e continuar a baixar os impostos que pesam no trabalho e na produção”, reiterou na sua carta, na qual evoca as linhas gerais de seu projecto de governo.
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