
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos da América tornou Donald Trump o primeiro presidente norte-americano a ser alvo de um segundo impeachment, acusando-o formalmente de incitar uma insurreição, numa votação que decorreu na quarta-feira, realizada uma semana depois de uma multidão violenta de apoiantes ter atacado o Capitólio.
A aprovação pela Câmara, controlada pelos democratas, ocorreu pelo resultado de 232 contra 197, após um ataque à democracia norte-americana que deixou cinco mortes, incluindo um agente das forças policiais. Dez republicanos se uniram aos democratas em apoio ao impeachment.
Mas parece improvável que o processo extraordinariamente rápido de impeachment leve à saída de Trump do cargo antes do fim de seu mandato de quatro anos, a 20 de Janeiro, dia em que o democrata Joe Biden será empossado.
O líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, refutou os pedidos dos democratas para um julgamento imediato do impeachment, dizendo que não há tempo para o concluir antes de Trump deixar o cargo.
A Câmara aprovou um único artigo de impeachment – uma acusação formal – acusando Trump de “incitar uma insurreição”, concentrando-se no discurso incendiário que realizou perante milhares de apoiantes pouco antes de uma multidão pró-Trump ter invadido o Congresso.
Os invasores interromperam a certificação formal da vitória de Biden sobre Trump na eleição que decorreu a 3 de Novembro, obrigando os deputados a esconderem-se. O ataque deixou cinco pessoas mortas.
Durante o discurso, Trump repetiu alegações falsas de que a eleição foi manipulada e incentivou os seus apoiantes a marcharem em direcção ao prédio do Capitólio.
Com milhares de tropas da Guarda Nacional, carregando fuzis, dentro e fora do Congresso, um emotivo debate desenrolou-se no mesmo plenário onde os membros eleitos da câmara se esconderam debaixo de cadeiras e usaram máscaras de gás a 6 de Janeiro, enquanto os invasores entravam em conflito com os policiais no lado de fora das portas: “O presidente dos Estados Unidos incitou essa insurreição, esta rebelião armada contra o nosso país”, disse a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, antes da votação. “Trump tem que sair. É um perigo claro e presente à nação que todos amamos”.
Nenhum presidente norte-americano foi retirado do cargo através do impeachment. Três deles – o próprio Trump em 2019, Bill Clinton em 1998 e Andrew Johnson em 1868 – sofreram impeachment na Câmara, mas foram absolvidos no Senado.
Algum republicanos argumentaram que a campanha do impeachment tomou julgamentos precipitados que contornaram o habitual processo deliberativo desse tipo de audiência e pediram que os democratas abandonassem a tentativa, em nome da união nacional e da pacificação do país.
De acordo com a Constituição dos EUA, o impeachment na Câmara desencadeia um julgamento no Senado. Uma maioria de dois terços no Senado, actualmente controlado pelos republicanos, seria necessária para condenar e remover Trump do cargo, o que significa que pelo menos 17 senadores republicanos teriam que se juntar aos democratas.
McConnell afirmou que nenhum julgamento pode começar antes de o Senado retomar as suas sessões a 19 de Janeiro, um dia antes da posse de Biden. O julgamento seguiria em frente no Senado, mesmo depois de Trump deixar o cargo: “Devido às regras, aos processos e precedentes do Senado que governam julgamentos de impeachment, simplesmente não há a possibilidade de haver um julgamento justo e sério que termine antes da posse do presidente-eleito Biden na próxima semana”, disse McConnell, num comunicado.
Nenhum senador republicano se manifestou a favor da condenação de Trump. Dois deles defenderam a renúncia do presidente.
Num comunicado emitido na quarta-feira, Trump pediu aos seus apoiantes que permaneçam pacíficos: “Eu insisto que NÃO deve haver violência, violações da lei e vandalismo de qualquer tipo. Isso não é o que eu defendo, e não é o que os Estados Unidos representam.”Os democratas ainda podem usar o julgamento de impeachment no Senado para tentar levar adiante uma votação para impedir Trump de concorrer ao cargo novamente.
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