As autoridades filipinas estão a ponderar a possibilidade de fretar um ou mais voos para retirar de Macau cerca de três centenas de cidadãos do arquipélago que se encontram num limbo na Região Administrativa Especial. Aos filipinos retidos tem valido a solidariedade da comunidade pinoy radicada no território.
Marco Carvalho
Quase três centenas de pessoas, entre turistas e emigrantes, estão há quase duas semanas num limbo, na sequência da decisão, tomada no início do mês pelo Executivo liderado por Rodrigo Duterte, de limitar a entrada a viajantes oriundos da República Popular da China e das Regiões Administrativas Especiais de Macau. A decisão – que prevê que os cidadãos filipinos provenientes das três regiões que queiram regressar ao país, se tenham que submeter a um período de 14 dias de quarentena – levou várias companhias aéreas a cancelar os voos directos entre a RAEM e as Filipinas.
Na quinta-feira, e ao fim de vários dias de impasse, o Consulado Geral das Filipinas em Macau anunciou em comunicado “que poderá organizar voos especiais directos para Manila” para responder “aos pedidos de repatriamento de membros da comunidade” que se encontram em Macau. No comunicado, publicado em inglês e em tagalo, a representação diplomática pede aos interessados que preencham um formulário facultado pelos serviços consulares, de forma a que as autoridades de Manila possam determinar se um único voo basta ou se serão necessárias mais ligações aéreas para repatriar os turistas e os emigrantes retidos em Macau. Os voos deverão ser operados pela Philippine Airlines, a companhia aérea de bandeira das Filipinas, a uma tarifa comercial regular. As ligações poderão realizar-se já na próxima semana.
Quase três centenas de cidadãos filipinos, entre turistas e trabalhadores não-residentes que perderam o emprego na sequência das medidas excepcionais de contingência decretadas pelo Governo local para travar a disseminação do novo coronavírus, terão feito chegar ao Consulado Geral das Filipinas no território pedidos de ajuda. A capacidade de resposta limitada da representação consular levou alguns trabalhadores não-residentes em situação mais vulnerável a pedir ajuda também à Caritas, revelou Paul Pun em declarações ao semanário católico “O Clarim”: ““Na terça-feira, três raparigas e um rapaz deslocaram-se à sede da Caritas porque foram forçados a tirar uma licença sem vencimento. Estavam preocupados porque estavam a ficar sem dinheiro e vieram ter connosco à procura de trabalho. Oferecemos-lhes alguma comida para que não tenham que gastar o dinheiro que têm”, explicou o secretário-geral da organização.
Perante as adversidades a que os compatriotas estão sujeitos, a comunidade filipina radicada em Macau mobilizou-se nos últimos dias, recolhendo e distribuindo máscaras, água e alimentos pelas quase trezenas pessoas afectadas. A Aliança da Comunidade Filipina (FILCAM), uma federação de 31 grupos e associações locais de matriz filipina, está a coordenar a missão humanitária. Só na quinta-feira foram distribuídos 165 cabazes alimentares, disse ao “Expediente Sínico” uma representante da organização: “Na quinta-feira, oferecemos 165 sacos de produtos alimentares. Distribuímos leite e fraldas para os bebés e oferecemos ainda leite a alguns dos idosos”, explicou Janette de Fiesta Castro. “Os cabazes não chegaram para toda a gente. Setenta das pessoas que estão nas nossas listas acabaram por não receber nada”, lamenta.

Depois do anúncio feito pelo Consulado Geral das Filipinas em Macau, a FILCAM convocou nova mobilização para sexta-feira: “Vamos ajudá-los a preencher os formulários de forma a que se possa apurar ao certo quantas pessoas querem regressar e quantos aviões o Governo das Filipinas deve enviar”, explica Janette de Fiesta Castro. “Queremos que os nossos compatriotas que cá se encontram retidos saibam que não estão sozinhos. Queremos que saibam que nos preocupámos com eles e que estamos dispostos a ajudá-los naquilo que nos for possível”, remata.
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