Argentina. Investigadora recorre a concurso televisivo para angariar fundos

Confrontada pela crescente crise económica e pelos protestos causados pelos cortes orçamentais de que é alvo a investigação científica na Argentina, uma investigadora arranjou uma nova maneira de angariar fundos: ganhar dinheiro num concurso televisivo.

Marina Simian, bióloga do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina, participou na versão local do programa “Quem Quer ser um Milionário” com a justificação de que necessita de dinheiro para financiar a investigação que conduz sobre o cancro.

Responsável por um laboratório de nanobiologia que investiga tratamentos oncológicos para o cancro da mama e outras formas da doença, Marina recorreu ao seu intelecto para facturar na competição e conseguiu o equivalente a 11 mil dólares para saldar os custos de manutenção do seu laboratório.

“Não sou uma heroína. Usei uma estratégia que foi um tanto criativa ou diferente para conseguir  uma forma de financiar o meu grupo de trabalho”, explicou Marina a cientista em entrevista à Universidade Nacional de San Martín, em Buenos Aires.

O financiamento atribuído pelo Governo tornou-se menos confiável para a investigação científica na Argentina, país abalado por uma recessão, por inflação galopante e por uma moeda em queda. A taxa de câmbio menos vantajosa também afecta o poder de compra dos argentinos, especialmente no que diz respeito a equipamentos importados em dólares, uma prática comum devido a uma maior disponibilidade e aos preços menores praticados.

Jorge Aguado, responsável pela agência governamental responsável pelo financiamento da ciência, disse à agência Reuters que o orçamento para a investigação científica aumentou desde que o presidente Mauricio Macri tomou posse, em 2015, mas reconheceu que a volatilidade económica provocou atrasos na distribuição dos fundos.

Aguado acrescenta que menos cientistas argentinos estão a regressar ao país depois de conduzirem investigações no exterior. A fasquia caiu de 90 por cento em 2013 para só 41 por cento no ano passado, agravando a fuga de quadros qualificados.

A Argentina tem três Prêmios Nobel em ciência, mas os investigadores argentinos lamentam desde há muito tempo a escassez dos recursos alocados à ciência.

A retenção de fundos foi a principal razão pela qual Marina Simian se aventurou na noite de terça-feira ao vivo no popular concurso de cultura geral. Simian lidera um laboratório em que é estudada a resistência a remédios contra o câncer. O projecto recebeu fundos governamentais em 2017, mas Marina diz que o dinheiro está a entrar a conta-gotas e que no ano passado só recebeu metade do dinheiro que  o laboratório devia ter recebido

Marina, que abordou as dificuldades com que a investigação científica se depara durante a sua participação no programa, disse esperar que a sua estreia na televisão atraia mais atenção para o trabalho desenvolvido pelos cientistas e investigadores argentinos.

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