O governo francês anunciou, na quarta-feira, a criação de uma agência para combater a manipulação de informações provenientes do exterior e notícias falsas que visam “minar o Estado”. A agência, que será gerida pelo gabinete de segurança e defesa nacional SGDSN, vai empregar até 60 pessoas para rastrear o conteúdo online, explicou o chefe do novo serviço, Stéphane Bouillon, em declarações no parlamento.
Bouillon declarou perante a comissão de defesa da Assembleia Nacional que a iniciativa “não pretende corrigir ou estabelecer a verdade”, mas identificar os ataques que procedem “de um país ou de uma organização estrangeira e que visam desestabilizar politicamente o Estado”.
A agência tenciona ajudar “políticos, diplomatas, tribunais e imprensa a perceber que, dos 400.000 tuítes sobre esta ou aquela notícia, 200.000 são provenientes de bots (contas automáticas) de uma região estrangeira ou que determinado debate vem de uma grupo de trolls”, acrescentou.
A medida é adoptada quando falta menos de um ano para as eleições presidenciais na França. Na última eleição, em 2012, grupos ligados à Rússia foram responsabilizados por um ataque maciço de piratas informáticos ao partido do presidente centrista Emmanuel Macron, que enfrentou a candidata da extrema direita Marine Le Pen nas urnas.
Bouillon insistiu que a nova agência, que será lançada em Setembro, não actuará como uma nova agência dos serviços secretos. As suas actividades serão analisadas por um comité de ética, cujos membros virão do judiciário, do corpo diplomático, da imprensa e da comunidade investigativa, disse ele: “O nosso objectivo é detectar algo que está a espalhar-se o mais rápidamente possível e localizar o incendiário”, diz Bouillon. “Depois de a floresta ser queimada, é triste, mas é tarde demais”.
O responsável observou ainda que o SGDSN vai monitorizar de perto as eleições parlamentares de Setembro na Alemanha, na esperança de aprender com a experiência germânica.
O novo organismo também vai ficar de olho nas redes sociais em Dezembro, quando o território francês da Nova Caledônia, no Pacífico, realizar o seu terceiro referendo de independência, para ver “se há países interessados em que o resultado tome uma certa direcção”, sublinhou.
Fontes das agências de segurança disseram à AFP que o governo já tinha colocado o projecto à prova depois do assassinato do professor Samuel Paty, em Outubro de 2020, às mãos de um radical islâmico. Um serviço criado para investigar uma virulenta campanha anti-francesa lançada nas redes sociais depois do assassinato rastreou a campanha até a Turquia.
A França não é o primeiro país a criar uma agência governamental para combater a desinformação. Nos Estados Unidos da América, um órgão do Departamento de Estado, o GEC, é responsável pela detecção e combate à propaganda estrangeira e à desinformação.
Em 2018, o governo britânico também criou uma unidade para combater a desinformação “por actores estatais e outros”.
Três anos antes, a União Europeia criou a East Stratcom Task Force com a intenção declarada de combater as campanhas russas contra o bloco europeu.
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