O julgamento sobre o incêndio florestal que deixou 66 mortos em 2017 no concelho de Pedrógão Grande, no centro de Portugal, arrancou esta segunda-feira no Tribunal de Leiria, onde serão julgados 11 arguidos acusados de cerca de meio milhar de delitos, grande parte deles de homicídio por negligência.
A tragédia ocorreu a 17 de Junho de 2017, quando deflagraram dois incêndios no concelho do Pedrógão que acabaram por se unificar e causar a morte de 66 pessoas, com centenas de feridos e perdas de mais de 90 milhões de euros.
Entre os acusados estão os presidentes de câmara dos três municípios afectados pelo incêndio: o autarca de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, o de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, e de Castanheira de Pera, Fernando Lopes.
Serão também julgados o vice-presidente e uma engenheira florestal de Pedrógão e o comandante dos Bombeiros Voluntários deste município, com o fundamento de que houve atrasos na organização da resposta ao incêndio e que os meios necessários não foram solicitados nas primeiras horas.
Dois executivos da Energias de Portugal (EDP), responsáveis pela linha de tensão onde ocorreram várias descargas que deram origem aos fogos, e outros três da Ascendi Pinhal Interior, a empresa responsável pela manutenção da estrada onde 47 pessoas morreram presas, completam a lista.
Todos eles serão julgados por um número variável de crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência.
A investigação do Ministério Público aponta para o facto de que praticamente todos os elos da cadeia falharam em Pedrógão, o que levou à propagação descontrolada das chamas e ao elevado número de vítimas.
O incêndio de Pedrógão Grande, que também deixou mais de 24.000 hectares queimados durante os cinco dias que demorou a controlar as chamas, foi o incêndio mais grave da história recente de Portugal e comoveu o país.
Esse ano foi duplamente trágico, pois em outubro registou-se uma onda de incêndios no norte e centro do país que deixou outra meia centena de falecidos.
O Estado português, que foi fortemente criticado por falhas na coordenação entre as autoridades de socorro, assumiu a responsabilidade pelas mortes em Pedrógão e as que ocorreram quatro meses depois, tendo pago 31 milhões de euros em indemnizações aos familiares das vítimas.
O incêndio de Pedrógão deu origem a outro processo que investiga supostas irregularidades nas ajudas concedidas para a reconstrução das casas destruídas pelas chamas, no qual o presidente da câmara, Valdemar Alves, é também acusado de falsificação de documentos e fraude.
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