Investigações sugerem que a variante sul-africana do coronavírus se espalha cerca de 50 por cento mais rapidamente e os anticorpos naturais são menos eficazes contra infecções pela nova estirpe, que, por outro lado, não causa doenças mais graves.
“Há limitações ao que podemos ver num laboratório, pelo que temos que esperar pelos dados dos ensaios clínicos para entender a gravidade da resistência das novas variantes às vacinas”, disse a professora Penny More, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD), numa reunião de especialistas liderada pelo ministro da Saúde da África do Sul, Zweli Mkhize.
Embora o vírus se esteja a adaptar à humanidade, os cientistas disseram que isso não significa que as vacinas não vão funcionar, pois estas são complexas e podem criar muitos tipos de imunidade.
Os dados recolhidos até agora também mostram que a nova variante sul-africana -chamada 501Y.V2- não é acompanhada de maior mortalidade, embora o aumento da pressão sobre o sistema de saúde possa estar por trás de mais óbitos: “As taxas de mortalidade mais elevadas provavelmente reflectem o aumento da pressão sobre o sistema de saúde. Mesmo que haja mais mortes na segunda vaga de contágio, não há diferença entre as taxas de mortalidade da primeira e da segunda vaga”, disse a investigadora Waasila Jassat, também do NICD.
Os cientistas também destacaram a importância de estudar o vírus geneticamente, o que lhes permitiu identificar a variante tão rapidamente, segundo o brasileiro Tulio de Oliveira, director do laboratório Krisp, na escola de Medicina Nelson Mandela, da Universidade KwaZulu-Natal, na cidade sul-africana de Durban.
Segundo Oliveira, cujo laboratório coordena a análise genética do vírus ao nível nacional, a questão da imunidade a segundas infecções requer mais investigações e dados a serem respondidos: “Os estudos estão a mostrar que os anticorpos naturais produzidos a partir de uma primeira infecção não são tão eficazes”, destacou o brasileiro, que vive na África do Sul desde1997.
A África do Sul tinha os contágios controlados desde Agosto, após alguns meses difíceis nos quais não foi apenas o grande epicentro da Covid-19 em África, mas também a quinta nação do mundo mais atingida pela pandemia. Nos últimos meses, porém, o número de novos casos por dia tem vindo a crescer rapidamente, especialmente nas quatro maiores províncias.
A África passou a barreira dos 3 milhões de contágio há pouco mais de uma semana e, de acordo com os últimos dados da Universidade Johns Hopkins, tem 3.262.232 casos confirmados e mais de 78.650 mortes, com a África do Sul no epicentro da pandemia com 40 por cento das infeções e 36.851 dos óbitos.
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