Cazaquistão. Um ano depois, Tokayev continua na sombra de “Elbasi”

O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, celebrou na sexta-feira um ano na liderança da maior das repúblicas da Ásia Central sem ter saído completamente da sombra do “pai da nação”, Nursultan Nazarbayev, mas com posições cada vez mais fortes à medida que a transição do poder no país se faz tangível.

Nazarbayev, que governou o país durante quase trinta anos, mantém uma presença proeminente na vida política do Cazaquistão: apesar de já não ser presidente, o antigo chefe de Estado preside ao Conselho de Segurança do país, rico em recursos naturais, e lidera ainda o partido no poder, Nur Otan.

Liderança bicéfala?

Alguns analistas acreditam que existem dois centros de decisão na República: o Palácio Akorda, onde Tokayev reside, e a Biblioteca Nacional, onde o primeiro presidente do país tem o seu Gabinete.

O papel de Tokayev, diplomata de carreira e antigo presidente do Senado cazaque, continua a gerar opiniões contraditórias, embora vários analistas concordem que o seu papel está progressivamente a ser reforçado: “A cada dia que passa, Tokayev vai ganhando mais a vontade para governar”, disse à Agência Efe, o analista político Viktor Kovtunovski.

De acordo com o analista, ao revogar o mandato senatorial no mês passado da filha mais velha de seu antecessor, Dariga Nazarbayeva, Tokayev “quebrou um dos acordos” sobre o transição do poder no país: “Foi uma decisão que ele tomou de forma independente”, defende Kovtunovski.

Andrei Chebotariov, director do centro de pesquisa “Alternativa”, discorda, porque, em sua opinião, a renúncia de Nazarbayeva –  que presidiu ao Senado por pouco mais de um ano –  foi “incentivada” pelo próprio Nursultan Nazarbayev: “Elbasi (ou líder da nação, como Nazarbayev é conhecido) controla alguns assuntos, e Tokayev, outros”, resume Chebotariov. “Mas a imposição do estado de emergência durante a pandemia (coronavírus) e a assinatura de outros decretos reforçaram a vertical presidencial e as suas posições estão a fortalecer-se”, admite o cientista político.

Promessas e reformas

Ao assumir o cargo há um ano, Tokayev, após as eleições que venceu com quase 71 por cento dos votos – e que foram criticados por observadores internacionais da OSCE devido a “grandes irregularidades” –  fez uma série de promessas, incluindo a de uma maior abertura do país ao mundo e o progresso das reformas democráticas.

O Cazaquistão não ocupa mais do que a posição 144 dos 167 possíveis no Índice de Democracia da revista “The Economist’s”: “No Cazaquistão, as pessoas não podem participar na política por meio de eleições justas e as possibilidades de protestar em manifestações são artificialmente limitadas. Isso cria o efeito de uma panela de pressão (…)”, diz o especialista Dosym Satpaev, chefe do “Risk Evolution Group”.

De acordo com as autoridades, algumas das iniciativas adoptadas no Cazaquistão sob a forma de leis como reuniões pacíficas e partidos políticos procuram “abrir um novo estágio na liberalização progressiva da vida social e política”.

A lei dos partidos, que reduz os requisitos para o aparecimento de novas formações políticas, foi bem recebida por críticos, que esperam que, no futuro,  a oposição, hoje praticamente inexistente no Parlamento, possa ter a possibilidade de influenciar as tomadas de decisão: “Estamos a formar uma nova cultura política. A pluralidade de opiniões, os pontos de vista alternativos estão a surgir. As autoridades não consideram a discordância destrutiva”, afirmou Tokayev.

Sem Mudanças Radicais

No entanto, alguns especialistas consideram que, apesar de ter conduzido algumas reformas e ter aumentado a sua visibilidade no plano doméstico e internacional, Tokayev segue o rumo estabelecido pelo presidente anterior.

Kovtunovski sublinha que uma das importantes promessas de Tokayev – a de descriminalização dos insultos ao poder – ainda não foi aprovada e que as perseguições a activistas políticos continuam a vigorar como vigoravam durante o “regime anterior”.

O cientista político sustenta que o país continua a ser governado “pelas mesmas pessoas”: “Não se podem esperar mudanças revolucionárias”, diz Eduard Polataev, director da fundação “O Mundo da Eurásia”, que insiste que Tokayev “segue o curso estratégico iniciado pelo seu antecessor”.

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