O avião do ditador romeno deposto Nicolae Ceausescu, aparelho que simboliza a independência do seu país face à União Soviética, foi vendido por 120.000 euros em Bucareste esta quinta-feira, após ter sido parte da tumultuada história da Roménia durante décadas.
Cerca de 150 coleccionadores e entusiastas da aviação remataram por telefone ou pela Internet para comprar a aeronave, que teve como valor base os 25 mil euros, segundo Alina Panico, porta-voz da casa de leilões Artmark, com sede na capital romena.
Da mesma forma, um carro de luxo Paykan Hillman Hunter que o Xá do Irão ofereceu a Ceausescu em 1974 foi adquirido por 95.000 euros no mesmo leilão por um coleccionador romeno.
A aeronave, uma Rombac Super One-Eleven, com o marca da “República Socialista da Roménia”, saiu de uma fábrica em Bucareste em 1986, a quinta de um total de nove concebidas sob licença da British Aircraft Corporation (BAC).
Assim, a Roménia tornou-se o primeiro país da Europa Oriental a fabricar aviões a jato fora da URSS e a “coroar a independência industrial” que Ceausescu procurava do poder soviético, lembra Artmark: “Para os romenos, foi um orgulho construir este tipo de aeronave, na vanguarda da tecnologia”, lembrou à AFP Gheorghe Mirica, um ex-piloto do exército que conseguiu testar o Rombac num voo.
Para atender às exigência do ditador, a cabine foi preparada para ter um dormitório e um escritório, para que Ceausescu pudesse jogar gamão com a sua esposa, o seu hobby preferido, de acordo com um ex-piloto que voou com o casal.
Ceaucescu, que governou a Romênia com punho de ferro a partir de 1965, foi deposto por uma revolta popular e executado com um tiro a 25 de Dezembro de 1989, junto com a esposa Elena.
A história incomum desta aeronave remonta a 1978. Por ocasião de uma viagem a Londres, Ceausescu assinou um contrato de 300 milhões de libras como garantia para o fabrico do modelo Rombac em Bucareste.
Entre as nove cópias do Rombac fabricadas na Roménia, algumas voavam com as cores da pequena empresa LAR, criada na década de 1970 pelo regime comunista e que tinha apenas um destino: Tel Aviv.
A Roménia, que foi o único país que manteve laços diplomáticos com Israel após a Guerra dos Seis Dias de 1967, também foi o único país que operou voos para o estado hebraico.
Bucareste prometeu fabricar 80 aeronaves no total, mas a queda de Ceausescu em 1989 sinalizou o fim do ambicioso projecto.
O avião presidencial foi posteriormente explorado pela estatal Romavia, que o alugou à empresa paquistanesa Aero Asia, antes de o deixar encalhado numa garagem. Em 2014 foi à falência e agora os seus activos estão a ser vendidos.
Para evitar que o famoso avião acabasse como sucata, um punhado de entusiastas conseguiu em Março que a aeronave fosse registrada pelas autoridades como “património nacional”: “Não pode ser despedaçado ou modificado, nem pode sair do território romeno”, explica Adrian Ciutan, antigo técnico do Rombac que iniciou esta campanha.
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