Quando vejo que uma considerável percentagem de mortes em Portugal por Covid 19 foram registadas em lares de idosos, fico perplexo pela incapacidade e incompetência das autoridades na solução de um problema previsível. Os resultados são pura e simplesmente trágicos. As medidas devem ser implementadas nestes locais com a certeza de que serão cumpridas.
Jorge Sales Marques/Pediatra
É necessária uma vigilância apertada da parte dos responsáveis pelos lares, porque é esse o seu dever. Por outro lado, apesar de o estado não ser o dono dos lares privados, pode – e deve – monitorizar, através da DGS, o cumprimento na íntegra dos planos de contingência. Numa faixa etária de alto risco, associada a doenças crónicas inerentes à idade – e consequentemente com influência negativa na imunidade do doente idoso – são mais do que muitos os motivos para que o empenho seja total, no sentido de minorar o risco e reduzir os índices crescentes de mortalidade.
Tive a oportunidade de falar sobre o bom exemplo de Macau na implementação das várias medidas para combater e, acima de tudo, evitar o contágio causado pelo vírus, muito antes da Organização Mundial de Saúde ter anunciado soluções da mesma natureza. Enquanto a OMS hesitava , Portugal fazia o mesmo. Em Abril , muitos especialistas ainda debatiam a controvérsia do uso de máscara, enquanto o número de casos e de mortes aumentava de semana para semana. Várias entrevistas foram dadas nos jornais, canais de rádio e televisão, tanto em Macau e Portugal, na qualidade de porta voz da Direcção dos Serviços de Saúde de Macau, em que abordei as medidas que foram tomadas com resultados positivos e os erros que não deveriam ser cometidos. Infelizmente, continuo a testemunhar os mesmos erros, a ausência de soluções e de responsabilidade criminal por estas mortes.
Os velhos não são trapos. A sociedade tem a sua quota de responsabilidade e deve protegê-los. Mas acima de tudo, os familiares devem ter a obrigação moral de os defender, de cuidar deles em situação de risco. Há muitas situações em que, por razões de natureza social ou económica, isto não é praticável. Por outro lado, também existem muitos casos em que os idosos são puramente atirados para os lares apenas por conveniência. Todos devemos parar para pensar se é verdadeiramente isto que nós queremos para aqueles que, no passado, deram tudo pelos filhos, pelos familiares , pelos patrões e pelo próprio País.
Há meses que ouvimos falar de mortes nos lares. Existe solução para esta situação que envergonha Portugal. Os casos são importados através de funcionários que trabalham no lar ou por familiares que visitam os idosos que lá vivem. Além de medidas sanitárias, como o uso obrigatório de máscara ou a lavagem de mãos, é importante fazer o controlo de temperatura à entrada nestas instituições.
Neste momento existe ainda uma outra hipótese: a possibilidade de serem feitos testes rápidos para a Covid-19 em 15, 20 minutos, através de kits disponibilizados pela Cruz Vermelha. Este recurso dever ser aplicado nas escolas, estando a Cruz Vermelha a ultimar a assinatura de um protocolo de colaboração com a Direcção Geral de Saúde. E porque não usar estes kits à entrada dos lares? Ou vamos continuar a contabilizar mortes e mais mortes em lares de idosos e casas de repouso? Apesar de não serem cem por cento eficazes, na dúvida podem ser confirmados pela submissão aos chamados testes PCR. Estes testes devem ser disponibilizados a todas as pessoas que entram nos lares. Só assim podemos rastrear com maior precisão os casos positivos, mesmo naqueles pacientes em que a febre e outros sintomas estão ausentes .
É uma solução que tem de ser adoptada o quanto antes. Não nos podemos dar ao luxo de pensar durante muito tempo sobre esta possibilidade porque, enquanto o fazemos, mais idosos irão morrer. Eles merecem a nossa atenção, protecção, carinho, amizade. E merecem, sobretudo, o nosso amor.
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