Índia reforça infraestruturas junto à fronteira com a China

A Índia está a construir um túnel no Himalaias, a mais de 3.000 metros de altitude, para poder enviar soldados com mais facilidade para a sua polémica fronteira com a República Popular da China, como parte de um programa de infraestruturas para uma área onde a tensão entre os dois gigantes asiáticos está a aumentar.

Em Junho, um confronto corpo a corpo causou 20 mortes no lado indiano e um número desconhecido de vítimas no lado chinês. As duas potências nucleares culparam-se mutuamente pelo sucedido e enviaram reforços para a região.

Do seu lado da fronteira, a Índia acelerou as suas actividades, mas está a ficar para trás, de acordo com analistas. Além do túnel de Atal Rohtang, de nove quilómetros, foram planeadas estradas, pontes, heliportos de alta altitude e aeroportos para aeronaves civis e militares.

A infraestrutura mais importante é o túnel, no valor de 400 milhões de dólares, no estado de Himachal Pradesh, que o primeiro-ministro Narendra Modi vai inaugurar em breve. A obra vai permitir que comboios cruzem a cordilheira independentemente das condições atmosféricas. Os soldados podem, assim, evitar a passagem de montanha de Rohtang. O túnel vai reduzir a viagem para cerca de dez minutos em vez das actuais quatro horas.

“Às vezes, os veículos avariam na estrada da passagem de montanha. As avarias causam congestionamentos de seis a oito horas”, declarou o tenente-general Harpal Singh, chefe da Agência de Estradas e Fronteiras (BRO): “Este túnel e outros projectos de infraestrutura estão a mudar as coisas para os militares”, disse Singh à AFP.

Actualmente, armas, munições e alimentos devem ser transportados antes do Inverno, quando as temperaturas caem para -40ºC negativos.

Foi necessária uma década para criar a estrutura ultramoderna, um feito técnico. As obras são possíveis apenas de Abril a Setembro, devido às temperaturas que se fazem sentir no Inverno. Os trabalhadores, munidos de chips especiais em caso de avalanche, tiveram de bloquear a corrente de um lago próximo.

Especialistas apontam, porém, que os esforços do lado indiano não são suficientes para igualar os feitos do lado chinês: “Os governos anteriores perderam duas décadas”, afirma Harsh Pant, do Observer Research Foundation, um centro de estudos em Nova Déli. “A China e suas infraestruturas são muito mais fortes actualmente”, completa.

O chefe da polícia de Himachal Pradesh também propôs treinar a população local no uso de armas para se defender em caso de invasão: “Eventualmente, na fronteira, ou no interior, as pessoas terão que ser treinadas para se defender”, disse Sanjay Kundu à AFP.

Kundu também defende estimular os moradores a denunciarem quaisquer suspeitas de espionagem por parte da China, de drones, ou e de voos de helicóptero.

Após um breve conflito entre os dois países em 1962, o governo espera que o investimento feito na região tranquilize os moradores mais preocupados: “Nas últimas semanas, foram contabilizados muitos mais movimentos de aviões de combate na região”, disse à AFP Lobsang Gyaltsen, um representante eleito de uma aldeia a cerca de 30 km da fronteira.

O BRO diz que construiu mais rodovias “estratégicas” – a maioria delas em pontos críticos perto da China – nos últimos quatro anos do que na década anterior e espera concluir mais 15 até o final de 2021.

Os trabalhadores estão a melhorar os 250 km da rodovia Darbuk-Shyok, recentemente concluída, ao longo da fronteira em Ladakh, reduzindo o tempo de viagem de Leh, a capital regional, para menos de um dia em vez de uma semana.

De acordo com a imprensa, até Outubro, todas as pontes desta rodovia poderão suportar o peso de um tanque de guerra T-90 de 70 toneladas ou de um caminhão carregado com um míssil terra-ar.

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