Uma delegação do Parlamento Europeu (PE) iniciou esta quarta-feira uma visita a Caxemira, região disputada pela Índia e pelo Paquistão. A visita coincidiu com dezenas de confrontos entre polícias e manifestantes, anunciaram as autoridades locais.
O grupo de eurodeputados, principalmente de formações de extrema-direita, integra eleitos dos partidos Lei e Justiça (Polónia), União Nacional (França) e Brexit (Reino Unido): “Vamos ver a situação na Caxemira ou o que gostariam de nos mostrar”, afirmou na segunda-feira, antes da partida, o eurodeputado francês Thierry Mariani, que faz parte da delegação.
O Presidente da Índia, Narendra Modi, na reunião que manteve com a delegação de parlamentares europeus afirmou esperar que a visita ofereça “uma visão clara das prioridades de desenvolvimento e governação da região”.
Os cerca de 30 eurodeputados de 11 países são o primeiro grupo estrangeiro a visitar a Caxemira desde que Nova Deli revogou a autonomia constitucional da região em Agosto.
O acesso a esta região havia sido negado anteriormente a relatores especiais da Organização das Nações Unidas, a congressistas dos Estados Unidos da América, a jornalistas estrangeiros e até alguns membros do Parlamento indiano.
A decisão de revogar a autonomia foi acompanhada por uma forte repressão, com o Governo de Modi a enviar dezenas de milhares de militares para a região, já fortemente militarizada, a impor o recolher obrigatório, a deter milhares de pessoas e a cortar praticamente todas as comunicações.
As autoridades indianas aligeiraram entretanto algumas daquelas restrições, levantando barreiras, restaurando a utilização de telefones fixos e alguns serviços de telemóveis, incentivando os alunos a regressar à escola e as empresas a reabrir, mas a maioria dos habitantes da Caxemira indiana optou por permanecer em casa, desafiando ou temendo ameaças de violência.
De acordo com a agência de notícias Press Trust da Índia (PTI) , Chris Davies, do Partido Democrata Liberal, viu-lhe ser retirado o convite para fazer parte da delegação após exigir falar com a população local sem escolta policial, não lhe tendo sido dadas muitas explicações por parte do Governo.
Chris Davies afirmou que a decisão prova que o Governo indiano está a tentar esconder a “realidade das suas acções”: “Não estou preparado para participar num golpe de relações públicas do Governo de Modi e fingir que está tudo bem. É muito claro que os princípios democráticos estão a ser subvertidos na Caxemira e o mundo precisa de começar a perceber”, noticiou a PTI, citando Davies.
Um membro da delegação da União Europeia na Índia afirma que a visita não é oficial e que está a ser realizada por alguns eurodeputados a nível pessoal.
A região testemunhou esta quarta-feira uma paralisação total, com os mercados a não abrirem pela manhã e pouco tráfego nas estradas.
Manifestantes entraram em conflito com as forças do Governo em várias partes de Srinagar, a principal cidade da Caxemira, enquanto gritavam “voltem para a Índia” e “queremos liberdade” e bloqueavam estradas ao queimar pneus e grandes pedaços de madeira.
As forças do Governo, por seu lado, dispararam granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha à medida que eram atingidas com pedras arremessadas pelos manifestantes.
A visita da delegação europeia ocorre um dia após o assassínio do sexto produtor de maçãs nas últimas semanas na região. A indústria de maçãs é vital para a economia de Caxemira.
O porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos instou as autoridades indianas “a esclarecer a situação e a restaurar completamente os direitos actualmente negados” aos habitantes da região.
A Caxemira está dividida entre a Índia e o Paquistão, mas é reivindicada por ambos. Os dois países travaram já duas guerras pelo controlo da região desde 1947.
A Índia acusa o Paquistão de armar e treinar rebeldes que lutam pela independência da Caxemira ou pela sua fusão com o Paquistão desde 1989.
Por seu lado, Islamabad rejeita a acusação da Índia e diz que apenas fornece apoio moral e diplomático.
Desde 1989, os rebeldes lutam contra o domínio indiano e cerca de 70.000 pessoas foram mortas durante o conflito armado e pela subsequente repressão militar indiana.
O Governo liderado por Modi afirmou que removeu uma disposição constitucional que garantia alguma autonomia à Caxemira para que pudesse alcançar um maior desenvolvimento económico, eliminando o sentimento de separação que, segundo a região, cultivou o movimento separatista.
Leave a Reply