Tailândia. Caverna dos “Wild Boars” torna-se atracção turística

Sumalee deposita flores brancas e inclina-se respeitosamente perante a estátua de Saman Kunan. O mergulhador morreu quase há um ano, durante o espectacular resgate de um grupo de jovens jogadores de futebol e do seu treinador, no Verão de 2018 . O grupo ficou retido no interior de uma gruta, no norte da Tailândia. O local tornou-se, desde então, uma das maiores atracções turísticas da região.

“Faz sentido que a estátua aqui esteja para que possa receber a nossa homenagem”, diz Sumalee, uma enfermeira que percorreu com os dois filhos os 250 quilómetros que separam a cidade de Chiang Mai da gruta de Tham Luang, onde há um ano se desenrolou o drama que manteve o mundo em suspenso.

“É um herói para todo o país. Salvou todos aqueles jovens”,  diz a visitante, referindo-se aos doze adolescentes da equipa de futebol dos  “Wild Boars” que ficaram retidos durante mais de duas semanas no interior inundado da caverna, em plena temporada de monções.

Fotografia: Estátua de Saman Kunan, o mergulhador que perdeu a vida durante as operações de restate, tornou-se local de peregrinação.

Antes da operação internacional de resgate que mobilizou centenas de pessoas 24 sobre 24 horas e manteve em tensa expectativa milhões de pessoas pelo mundo todo, a gruta, no coração de uma zona montanhosa do norte do país, era um lugar tranquilo, afastado dos circuitos turísticos.

Tham Luang recebia 5.000 visitantes por ano antes do suplício pela qual passaram os “Wild Boars”, de acordo com Kawee Prasomphol, responsável pela gestão do local.

Este ano, “de Outubro a Abril recebemos 1,3 milhões de turistas”. Os visitantes são sobretudo tailandeses mas também estrangeiros. Dias há em que a gruta recebe até 25.000 pessoas por dia, explica o responsável.

Um centro comercial no meio do nada

As autoridades esperam transformar Tham Luang num importante centro turístico, numa região que esteve durante décadas entre as mais isoladas do país.

Perto da estátua de Saman Kunan e da entrada da caverna, um centro de informações abriu as portas. O espaço abriga uma gigantesca pintura, intitulada “Os heróis”, que representa as crianças, então com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos, no meio dos socorristas, sob o olhar sorridente do primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha.

Um novíssimo centro de informações turísticas acolhe um gigantesco mural onde se podem identificar alguns dos principais intervenientes da saga dos “Wild Boars”.

No centro de informação turística vende-se de tudo: camisolas pelo equivalente a setenta patacas, pins, placas, porta-chaves. Memorabília de um drama que enterneceu o mundo.

Cerca de 250 bancas e pequenas lojas abriram na berma da estrada que leva a Tham Luang. Vendem comida, roupa e souvenirs. Diz a lenda que a montanha onde fica a caverna, chamada “A mulher adormecida” devido ao seu formato alongado, abriga espíritos. Desde o bem-sucedido resgate dos “Wild Boars”, a gruta tornou-se sinónimo de boa sorte, e por isso não faltam também vendedores de loteria, um hábito muito popular na Tailândia: “Consigo vender até 4.000 bilhetes de loteria por mês”, conta Kraingkrai, um dos primeiros vendedores a  montar arraial à entrada de Tham Luang.

O fluxo de turistas diminuiu, no entanto, desde o início da época das chuvas, em Maio.

Superprodução Netflix

Phitsawphong gere as camionetas que se revezam para levar os visitantes do estacionamento até a entrada da caverna e não esconde o optimismo quanto ao futuro: “O turismo cria trabalho para os locais. Antes os agricultores da zona tinham que pedir empréstimos para comprar fertilizante”, diz.

Os residentes da zona aguardam a reabertura da caverna, prevista para 2020. Desejam que os muitos acontecimentos associados à “aventura dos Wild Boars” – especialmente uma superprodução da Netflix – permitam atrair mais visitantes.

O governo destinou 50 milhões de baths (1,5 milhão de euros) para desenvolver Tham Luang e os arredores, de acordo com Kawee Prasomphol, responsável pela gestão do local.

A poucos quilómetros de Tham Luang está prevista a construção um centro comercial, de restaurantes, de hotéis e de vários parques de campismo: “É normal que as pessoas tentem ganhar dinheiro. Mas é importante que o local conserve um certo aspecto espiritual. O que aqui aconteceu com aquelas crianças foi um milagre”, diz Cheong, um turista oriundo de Singapura, citado pela France Press.

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