A França anunciou, esta quarta-feira, que iniciou o processo de suspensão da plataforma de comércio electrónico Shein no seu território, poucas horas depois da gigante asiática inaugurar a sua primeira loja física permanente no mundo. A superfície comercial abriu portas na capital francesa, Paris.
A empresa, fundada na China em 2012 e actualmente sediada em Singapura, vem sofrendo pressões em França por vender bonecas sexuais com aparência infantil, prática que está a ser investigada pela Justiça: “O governo está a iniciar o processo de suspensão da Shein, mas tenciona dar à plataforma tempo para demonstrar às autoridades públicas que todo o seu conteúdo está finalmente em conformidade com as nossas leis e regulamentos”, anunciou o Executivo francês numa nota de imprensa. “Os ministros vão realizar uma avaliação inicial nas próximas 48 horas”, acrescentou o comunicado, sem fornecer mais detalhes.
A plataforma informou a AFP nesta quarta-feira que vai suspender o seu “marketplace” na França, ou seja, os produtos oferecidos online por vendedores terceirizados, “após preocupações” levantadas por alguns anúncios.
Como sinal da pressão na França, a inauguração de sua primeira unidade física permanente na histórica loja de departamentos BHV, no centro de Paris, ocorreu sob um forte aparato policial
No entanto, a polémica não impediu centenas de pessoas de formarem fila horas antes para serem as primeiras a entrar, seja por curiosidade ou convencidas por uma marca que consideram acessível: “Os tempos mudaram, as gerações mudaram”, disse à AFP Mohamed Joullanar, de 30 anos, que já compra online na Shein. “Nunca pensei entrar na BHV antes”, contou este estudante marroquino. “Sempre ouvi dizer que era caro, com produtos de luxo. Mas agora, graças à Shein, estou aqui”.
A inauguração também foi marcada por protestos nas proximidades, organizados por activistas dos direitos das crianças: “Protejam as crianças, não a Shein”, dizia uma das placas.
Os manifestantes também distribuíram panfletos denunciando o “suposto trabalho forçado”, a “poluição” e a “produção excessiva” das roupas da Shein, e pediram assinaturas para um abaixo-assinado contra a loja física.
Paris est la capitale mondiale de la mode, elle ne peut pas devenir la vitrine du modèle antiéthique SHEIN !
Un vêtement à 5 € c’est une conscience à zéro :
travail précaire, pollution massive, gaspillage organisé…Mobilisés ce matin avec des habitantes et des habitants de… pic.twitter.com/0I9gP8T4lz
— PierreYves Bournazel (@pybournazel) November 5, 2025
A plataforma enfrenta críticas pelas condições de trabalho nas suas fábricas e pelo impacto ambiental de seu modelo de negócios de fast-fashion. Políticos, sindicatos e grandes marcas rejeitaram a entrada da marca em França.
A poucos dias da inauguração, surgiu uma nova controvérsia relacionada com a venda de bonecas sexuais com aparência infantil em sua plataforma.
Hipocrisia ou alarme?
Após a venda das bonecas, o Ministério Público de Paris abriu investigações contra a Shein, assim como contra as concorrentes AliExpress, Temu e Wish.
As investigações concentram-se na “disseminação de mensagens violentas, pornográficas ou contrárias à dignidade” acessíveis a menores, afirmou o MP.
A imprensa francesa publicou uma foto de uma das bonecas vendidas na plataforma, acompanhada de uma legenda explicitamente sexual. A boneca tinha aproximadamente 80 centímetros de altura e segurava um ursinho de peluche. A Shein prometeu “cooperar plenamente” com as autoridades judiciais francesas e anunciou a proibição de todas as bonecas de natureza sexual.
O portav-voz na França, Quentin Ruffat, atribuiu a venda das bonecas a “um mau funcionamento” nos seus processos e governança.
Frédéric Merlin, CEO de 34 anos da SGM, empresa que opera a BHV, admitiu na terça-feira que considerou cancelar a parceria com a Shein após o último escândalo, mas depois mudou de ideia.
Merlin disse ter confiança nos produtos da Shein que serão vendidos nas suas lojas de departamento e denunciou uma “hipocrisia generalizada” em torno da gigante asiática: “A Shein tem 25 milhões de clientes na França”, enfatizou Merlin a meios de comunicação como a BFMTV e RMC nesta quarta-feira.
A ascensão meteórica da plataforma representa um problema para os retalhistas de moda tradicionais. Os críticos temem que a entrada da marca no país force os sectores tradicionais a demitir funcionários ou fechar as portas.
A Shein também planeia abrir cinco lojas em outras cidades francesas, incluindo Dijon, Grenoble e Reims.


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