Manifestantes pró-democracia de Myanmar espalharam tinta vermelha pelas ruas de Rangum esta terça-feira para lembrar a junta militar que governa o país que ela tem sangue nas mãos. A crise provocada pelo golpe militar de 1 de Fevereiro na nação do sudeste asiático arrasta-se sem fim à vista.
Vários grupos pediram um boicote ao Festival da Água de Thingyan, que se realiza na semana que vem e que assinala o Ano Novo budista. Panfletos a pedir a interdição que foram distribuídos em Yangon defendem que o boicote deve ser lido como um sinal de compaixão pelas famílias das vítimas fatais.
Cerca de 570 pessoas foram mortas ao longo de dois meses de tumultos desde o golpe de 1 de Fevereiro. As forças de segurança prenderam quase 3.500 pessoas – cerca de quatro quintos delas continuam detidas, disse a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP) esta terça-feira.
Dezenas de anifestantes acordaram cedo em Rangum, a maior cidade do Myanmar para grafittar e pintar calçadas, ruas e paragens de autocarro com tinta vermelha para protestar contra a repressão abrangente das forças de segurança, que causa revolta internacional desde há várias semanas: “O sangue não secou”, diz uma mensagem pintada a vermelho.
Outra pintada numa paragem de autocarro implorou aos soldados rasos que não sejam explorados por generais cleptocráticos que se agarram ao poder: “Não matem pessoas só por um salário pequeno que não chega para pagar pela ração de um cão”, dizia a mensagem, que ainda acusou o líder da junta, o general Min Aung Hlaing, de roubar o povo.
A revolta espalhou-se por todo o Myanmar nos últimos dois meses por causa do regresso de um governo militar ao poder e do fim abrupto de uma era breve de reformas democráticas e económicas e de integração internacional que estiveram ausentes durante o comando opressivo dos militares entre 1962 e 2011.
Alguns manifestantes baptizam de “revolução da Primavera” o movimento caracterizado por marchas nas ruas, actos de rebelião não-violenta inusitados e campanhas de desobediência civil cuja meta é afectar o funcionamento do aparelho governamental.
Outro protesto agendado para a quarta-feira pede a queima de produtos chineses. Muitos manifestantes opõem-se à China devido à percepção de que o país apoia a Junta Miltar: “O estado das pessoas agora é tal que, não importa quem convocou qualquer que seja o protesto, as pessoas estão sempre dispostas a seguir”, disse Khin Sandar, activista, em declarações à agência Reuters por telefone.
Mas a capacidade de organizar protestos pode ter sido prejudicada nos últimos dias pela restrições impostas à internet de banda larga sem fio, o que agrava um bloqueio de semanas aos serviços de dados móveis, que vinham sendo o principal canal de disseminação de informações sobre o que está a acontecer no país durante a repressão.
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