Portugal. Desconfinar, mas com cautela

Portugal começou esta segunda-feira a primeira fase do seu processo de desconfinamento, com abertura de creches e primeiro ciclo, cabeleireiros e livrarias e a permissão de beber café na rua, liberdades que ao fim de dois meses em casa trazem uma alegria que, recordam as autoridades, não podem fazer esquecer os perigos. A reportagem da agência EFE.

“Entramos hoje na primeira fase do desconfinamento que tem de ser muito prudente, gradual e a conta-gotas. E conta-gotas não é sinónimo de sair e fazer tudo o que gostaríamos de fazer como se não atravessássemos ainda uma grave pandemia”, escreveu o primeiro-ministro, o socialista António Costa, no Twitter.

Costa começou o dia activo naquela rede social: “Esta é uma fase bastante exigente” e “não podemos correr riscos e deitar tudo a perder”.

Avisos com os quais Portugal abre um plano de desconfinamento de quatro fases que prevê avanços a cada duas semanas, desde que os indicadores de Covid não voltem a disparar. A última das quais está previsto começar a 3 de Maio.

A que hoje começa é o prolegómeno das aberturas de maior impacto para a economia, como abrir esplanadas da restauração ou comércio de até 200 metros quadrados com porta para a rua, a partir de 5 de Abril, depois da Páscoa, quando também está prevista a reabertura da fronteira terrestre com Espanha.

Um futuro de recompensas, em suma, que chegarão caso se passe no exame destes 15 dias, nos quais continua a ser norma o confinamento em casa para manter afastada uma pandemia que em Janeiro marcou recordes no país, com mais de 300 mortes e 16.000 contágios num só dia.

O dia foi inaugurado por creches e escolas que reabriram portas para alunos de até 9 anos no meio de um ambiente festivo para os pequenos, mas sobretudo para os pais.

As cenas de reencontros vividas ao início do ano lectivo, em Setembro, repetiram-se esta segunda numa escola primária do bairro lisboeta da Graça, onde cerca de cem menores voltaram às aulas depois do fecho decretado a 22 de Janeiro.

O regresso vem acompanhado em Portugal de um plano para fazer periodicamente testes de antigénio nestes centros, medida financiada com quase 20 milhões de euros, e vacinação prioritária para os professores e pessoal não docente a partir do próximo fim de semana, para que o vírus fique sob controlo e não se tenha que voltar a fechar.

E perto da escola, depois de se deixar as crianças, vê-se outra cena que não acontece há dois meses: pessoas a beber café na rua: “É uma tradição, uma necessidade”, explica à Efe Daniel Torres, responsável de um dos estabelecimentos que podem agora voltar a vender café a quem vai a caminho do trabalhou ou faz uma pequena pausa, um cenário clássico da vida portuguesa habitualmente acompanhado por um doce, o que aumenta as vendas de um setor que apenas podia fazer entregas ao domicílio.

Em cinco minutos, o café Vitória, na Baixa lisboeta, serve oito cafés, duas madalenas e um pastel de Nata:  “Agora isto é totalmente diferente”, diz Torres.

Vê-se menos actividade nas livrarias. Na Bertrand da Baixa, uma instituição que se orgulha de ser “a livraria mais antiga do mundo”, passeavam apenas quatro pessoas nos corredores. Três delas jornalistas.

Nos cabeleireiros, entretanto, a manhã foi passada a atender o telefone; sem marcação não há visita nos maiores locais, embora algumas barbearias terem dado prioridade a quem se apresentava primeiro.

A outra reabertura do dia foi a do Santuário de Fátima, que volta a realizar até seis missas diárias abertas a peregrinos.

Apesar destas mudanças, a vida continua igual na fronteira entre Portugal e Espanha, onde os controlos que permitem apenas a passagem de trabalhadores transfronteiriços, mercadorias e regresso de residentes vão-se manter até depois da Páscoa, a 6 de Abril.

Entre 31 de Janeiro e 12 de Março passaram por estes controlos meio milhão de pessoas e mais de 400.000 veículos, segundo dados do Ministério da Administração Interna.

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