Em Portugal, o governo tem vindo a tomar medidas mais rígidas nas últimas três semanas. Voltamos ao confinamento , desta vez sem tantas excepções, sendo que a medida foi prolongada pelo menos até Março. O controlo da fronteira terrestre com a Espanha e a restrição de passageiros à entrada e saída de Portugal para outros destinos, vão manter-se. O que levou o governo a tomar medidas tão radicais?
Jorge Sales Marques/Pediatra
Durante meses andou a negar as medidas sanitárias mais apropriadas à situação que estávamos à viver, com todas as consequências daí resultantes : aumento significativo de casos e mortes, colocando deste modo o nosso país no top mundial pelos piores motivos.
O Bastonário da Ordem dos Médicos e muitos outros profissionais de saúde de diversas áreas de especialidade, com ligação mais directa à temática da infeção por Covid 19 , avisaram e insistiram inúmeras vezes sobre as medidas mais adequadas para o controlo da pandemia, mas quase sempre, por teimosia e falta de visão de quem manda, os conselhos – deveras importantes naquele momento para diminuir a velocidade de propagação do vírus na comunidade – não foram seguidos.
Terá sido coincidência ou não que as medidas mais rigorosas surgiram depois da reeleição do Presidente da República? Também é verdade que o país estava a seguir um rumo muito perigoso, à beira de abismo, com números incalculáveis de casos e mortes diários por Covid-19 e com os hospitais e os profissionais de saúde em situação de burnout iminente. Alguém com bom senso, com voz de comando neste país, tinha de pegar no carro mal conduzido .
Foi pena o bom senso ter chegado tão tarde. Podíamos ter poupado muitas vidas e o sofrimento de inúmeras famílias que ficaram sem os seus entes queridos.
Ninguém pode afirmar conscientemente que nada sabia sobre o vírus ou que não foram informados sobre a virulência, grau de contagiosidade e propagação. O vírus não teve origem na Europa, mas sim na China. Tiveram muita informação prévia sobre o que fazer, como combater e como planificar com a devida antecedência. Apesar de, com insistência as autoridades dizerem que as medidas foram tomadas antecipadamente, qualquer cidadão com um mínimo sentido crítico tem noção que a planificação foi tardia .
Quando, no futuro próximo, a história da passagem da pandemia em Portugal for discutida a fundo pelos comentadores, certamente que a verdade sobre os sucessivos erros cometidos neste período, será debatida em pormenor. Sem dúvida que os cidadãos que não cumpriram as medidas sanitárias durante a pandemia, tiveram uma quota importante de responsabilidade, mas havia meios para os conter, que não foram tomados na altura própria.
Ninguém poderá trazer de novo as pessoas que morreram, nem tão pouco identificar os verdadeiros incompetentes que levaram o país quase até ao fundo do túnel. Ficará sempre bem a cada um assumir e reconhecer que erraram, que não fizeram com intenção de prejudicar ninguém e que as indecisões na hora H , levaram ao descalabro social e económico .
Não acredito que alguém consiga dormir depois de ver morrer tantas pessoas diariamente, fruto dos erros de estratégia no combate à pandemia. Errar é humano, mas tantas e repetidas vezes , já custa aceitar.
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