China. Covid-19 azeda entrada no Ano do Búfalo

Viajar para celebrar em família o Ano do Boi, apesar das restrições anti-Covid, ou ficar sozinho em Pequim, como pedem as autoridades? O dilema agita os chineses que trabalham na capital.

O Ano Novo Lunar, que este ano tem início a 12 de Fevereiro, é a celebração mais importante da República Popular da China. Normalmente, milhões de trabalhadores aproveitam a oportunidade para regressar às suas províncias de origem.

Com o coronavírus quase erradicado no país, apesar de alguns surtos localizados em Dezembro-Janeiro, principalmente em Pequim, muitos esperavam comemorar o ano novo normalmente.

Mas, por precaução, as autoridades da capital fizeram um apelo aos moradores para que  evitem qualquer viagem “desnecessária” para fora da cidade no feriado.

Para desencorajar as movimentações, as as autoridades usam incentivos financeiros para quem fica e exigências de exames e formalidades para quem viaja: “Para viajar, é necessário fazer um teste de PCR e obter um certificado. Não é prático”, explica à AFP Hou Sibai, um entregador de comida natural de Gansu, que trabalha em Pequim. Hou decidiu passar o feriado na capital com a sua esposa e filha.

Para incentivar pessoas como Hou Sibai a não viajar, Pequim prometeu 40 milhões de yuans (5,1 milhões de dólares) em cupons de descontos, para serem usados em aplicativos de comércio electrónico.

Filmes online e planos de dados móveis para smartphones também estão a ser oferecidos.

 Comboios vazios

E a estratégia tem sido bem sucedida: as viagens ferroviárias e aéreas caíram 80 por cento em relação ao ano passado, de acordo com a autarquia da capital chinesa.

Na estação ferroviária de Pequim, geralmente lotada durante os feriados, muitos bancos estão vazios e não há filas nas máquinas.

A queda para zero nos últimos dias no número de novos pacientes com Covid-19 na China, no entanto, levou alguns a decidir viajar. É o caso de  Li Xinjun, uma empregada de limpezas de 50 anos que vai a Hebei, no norte do país, para ver o seu filho e a sua família: “Os meus patrões trabalham no hospital. Então, no ano passado, por causa da epidemia, não puderam tirar férias. Então, eu também não voltei a casa”, contou à AFP. “Há muito tempo que não vejo o meu filho”.

Outra viajante, Liu Wenjing, disse à AFP que viajará para Henan,, depois de ter sido pressionado pela família.

A jovem de 24 anos acredita que os seus pais querem apresentá-la a potenciais namorados durante as férias, um ritual profundamente enraizado na China: “Não tenho pressa (para me casar), mas eles têm!”, salienta.

Para sair de Pequim, Liu Wenjing teve que apresentar um teste PCR negativo. No regresso à capital, terá que realizar outro, correndo o risco de uma quarentena obrigatória em casa.

“Boa refeição”

As restrições variam em todo o país. Algumas áreas rurais, por exemplo, impõem quarentenas a todos os visitantes.

Algumas das restrições mais fortes estão em Pequim. Os viajantes que entram na capital devem apresentar teste PCR negativo antes do embarque.

Devem então fazer mais dois – 7 e 14 dias após a chegada -, enquanto passam por duas semanas de “vigilância médica” – basicamente dando conta da sua temperatura às autoridades.

As restrições, juntamente com a apreensão de talvez ter que realizar uma quarentena obrigatória ao regressar, levaram  Hou Sibai, o entregador de refeições, a cancelar a sua viagem para sua cidade natal: “Os meus parentes, os meus amigos, os meus pais e os meus irmãos e irmãs estão todos lá”, suspira.

Ele, a sua esposa e a sua filha moram num quarto num apartamento compartilhado na zona norte de Pequim, onde irão celebrar modestamente a entrada no Ano do Boi: “O ambiente não é tão animado como na minha aldeia”, lamenta. “Mas vamos cozinhar uma boa refeição para nós os três!”

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