
A nova Junta Militar que tomou o poder no Myanmar após o golpe contra Aung San Suu Kyi controla os principais recursos naturais e económicos do país, entre eles minas, bancos e o turismo, uma riqueza na mira das sanções dos Estados Unidos.
Na quarta-feira, o governo norte-americano anunciou novas sanções, mas ainda não se sabe se apontam somente para os autores do golpe ou também para os gigantescos conglomerados económicos controlados pelos militares.
Em 2020, o hermético Myanmar Economic Holdings Limited (MEHL) chamou a atenção do planeta, depois da morte de quase 300 birmaneses no colapso de uma de suas minas de jade.
O MEHL é um dos dois conglomerados de propriedade militar, junto com a Myanmar Economic Corporation (MEC), grupos opacos com interesses colossais em actividades tão diversas como a mineração, a cerveja, tabaco, transporte, indústria têxtil, turismo e bancos.
Através deles, mais de 130 empresas são dirigidas total ou parcialmente por generais, de acordo com um relatório da ONG Justice for Myanmar (JFM), publicado na semana passada.
O comércio de jade move milhares de milhõs de dólares por ano, mas apenas uma parte muito pequena termina nos cofres do Estado e a maioria das pedras de qualidade são contrabandeadas para a República Popular da China.
Milhares de milhões em dividendos
Em 2011, o general Ming Aung Hlaing recebeu 250.000 mil dólares de dividendos por parte da MEHL, de acordo com um relatório da Amnistia Internacional de Setembro de 2020.
De 1990 a 2011, os accionistas, todos militares em serviço ou aposentados, receberam cerca de 18 mil milhões de dólares norte-americanos. Desde que se tornou independente, em 1948, o Myanmar viveu sob o jugo do exército durante 49 anos: “Tiveram tempo de se apoderarem de uma grande parte da riqueza”, disse Françoise Nicolas, directora para a Ásia do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).
O breve parêntese democrático de dez anos que o golpe militar acaba de encerrar não mudou a situação, já que o exército conserva importantes prerrogativas graças a uma Constituição feita visando o seu próprio benefício.
A esmagadora vitória do partido de Aung San Suu Kyi nas eleições legislativas de Novembro de 2020 assustou os generais.
A vitória “poderia colocar em risco parte da sua riqueza e muito provavelmente influenciou na decisão de avançar com o golpe de estado”, estima Françoise Nicolas.
Com o golpe, o exército retomou o controlo total das empresas estatais, particularmente nos sectores do petróleo e do gás.
Controla a Myanmar Oil and Gas Enterprise (MOGE), associada com a francesa Total e a americana Chevron, que factura quase mil milhões de dólares por ano pela venda de gás natural.
Actualmente, as sanções impostas após os abusos do exército em 2017 contra a minoria muçulmana rohingya foram direccionadas apenas a alguns militares, como Min Aung Hlaing.
Washington anunciou novas sanções e decidiu restringir o acesso dos generais a mil milhões de dólares que têm depositados nos Estados Unidos da América.
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