Toda a população mundial – a comunidade científica incluída – está desesperadamente à espera da milagrosa vacina, a fim de finalmente podermos por cobro ao flagelo das infecções por Covid-19 e de uma pandemia que tem vindo a provocar uma autêntica hecatombe humana , económica e social.
Jorge Sales Marques/Pediatra
As consequências chegam a ser, por vezes, políticas, com as pessoas responsáveis pela coordenação sanitária de alguns países a serem alvo de uma onda de críticas devido a tomadas de decisão que amplificam ainda mais o estado caótico com que um pequeno vírus, ínfimo no seu tamanho, confrontou as sociedades e a todos nós, a nível pessoal.
A confusão constante, as indecisões, as controvérsias que são lançadas ao público por diferentes governos não têm ajudado a construir uma necessária empatia entre quem lidera e a população, dificultando o aligeiramento da grave crise com que estamos confrontados desde o início do ano.
Ao contrário dos países asiáticos em que as medidas foram acolhidas sem que houvesse protestos, as medidas sanitárias promovidos pelos responsáveis de saúde e apoiadas pelos respectivos governos na Europa, nos Estados Unidos da América ou ainda no Brasil suscitaram uma luta quase diária dos cidadãos contra uma série de medidas com grande relevância como sejam o uso obrigatório de máscara ou o confinamento social. O negativismo em relação a tais medidas é justificado pelos críticos com supostas privações da liberdade individual, com o atropelo ao direito de escolha.
Para agravar o cenário, temos visto alguns profissionais de saúde a fazerem o impensável: a transmitirem à população formas de falsear os resultados dos testes ou a passarem atestados para que algumas pessoas estejam isentas da utilização de máscara, tendo por base falsas declarações.
As vacinas que foram anunciadas até à data foram muito bem recebidas pela comunidade internacional. Para os grandes defensores da importância da vacinação em massa para o controlo da pandemia, estas notícias são a cereja no topo do bolo. As previsões iniciais apontavam para que a vacina fosse comercializada apenas em Julho do próximo ano, mas o aumento exponencial dos casos, a pressão de vários governos e de muitos países, levou a que – com alguma surpresa – fosse anunciada há poucos dias a possibilidade de que a vacina possa ser aplicada já em Dezembro ou Janeiro.
As vacinas têm de apresentar um preço minimamente aceitável e, de preferência, com poucos obstáculos e entraves ao seu transporte e armazenamento, para que toda a população mundial consiga ser beneficiada.
É interessante ver esta troca de argumentos que tem havido em relação a percentagem de sucesso de cada uma delas. A percentagem sobe quando um grupo ou empresa concorrente apresenta um valor superior na eficácia da vacina. Fazendo uma análise no escuro sobre as vacinas já anunciadas, uma vez que ainda não sabemos os verdadeiros resultados de cada uma delas, o que já se sabe é que algumas das soluções propostas precisam de estar em frigoríficos com temperaturas muito negativas, o que se torna de imediato um “ handicap “, desde logo porque não é, à partida, uma abordagem muito prática.
Por outro lado, o preço também conta e muito. Ao produzir uma vacina , numa situação de pandemia, não podemos pensar apenas nos países ricos que têm possibilidades económicas únicas para adquirirem os imunizantes em quantidades astronómicas. As vacinas têm de apresentar um preço minimamente aceitável e, de preferência, com poucos obstáculos e entraves ao seu transporte e armazenamento, para que toda a população mundial consiga ser beneficiada.
A escolha da vacina terá de ter por base alguns critérios que são fundamentais nesta era pandémica que estamos a viver. A relação custo – benefício conta e muito. A sua eficácia comprovada nos estudos científicos e com resultados baseados em evidências clínicas é outro critério incontornável. A sua forma de aplicação. O número de doses. O tempo de imunidade de cada vacina.
A estes factores acresce a percentagem da população que é necessário vacinar para que a população não vacinada possa beneficiar de imunidade de grupo. Qual a sua eficácia em diversos grupos etários. E finalmente – mas também de grande importância – quais os efeitos secundários encontrados em cada uma das vacinas até agora anunciadas .
Uma certeza que todos nós temos de ter: não vai ser fácil escolher a(s) vacina (s). Há muitas interrogações que ainda terão de ser esclarecidas pelos laboratórios que as produziram. E cada país poderá até escolher uma vacina de um fabricante diferente, dependendo de vários factores, desde a característica da população, número de casos e faixas etárias mais atingidas. O preço de cada uma delas deverá ser razão de escolha de muitos países com menores possibilidades económicas. Isto não implica, à priori, que sejam as piores do ponto de vista de eficácia. Podem ser igualmente eficazes.
Nesta fase de escolha, é necessário que decisores e responsáveis tenham tempo e possibilidade de aceder a toda a informação científica sobre cada uma delas. Escolher com critérios é de longe melhor que decidir à pressa . Esta escolha vai ser fundamental para a população, que não pode deixar de cumprir as medidas sanitárias com rigor.
Temos de ter sempre em mente que nenhuma vacina é cem por cento eficaz. A melhor prevenção será sempre cumprir as regras. Quem ganha com esta atitude somos nós, a nossa família, os nossos amigos. Enfim, o cidadão comum.
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