Paraty e Ilha Grande declaradas Património Mundial pela UNESCO

A cidade colonial de Paraty e a paradisíaca Ilha Grande, localizadas no sul do estado do Rio de Janeiro, foram declaradas na sexta-feira Património da Humanidade pela UNESCO. Trata-se da primeira candidatura mista brasileira  a obter a distinção.

A decisão foi tomada na 43ª reunião do Comité do Patrimônio Mundial, que decorrer até à próxima quarta-feira, em Baku, capital do Azerbaijão.

“A Representação da UNESCO no Brasil celebra a inscrição do novo sítio brasileiro na Lista do Património Mundial. Paraty já é integrante da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria da gastronomia e, agora, mostra a riqueza da diversidade local, tornando-se património mundial misto, ou seja, tanto cultural quanto natural”, adiantou a representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.

“Formada pelo intercâmbio das culturas indígena, africana e caiçara que se expressam nos bens culturais da cidade, Paraty engloba uma fusão de características próprias do património material e do imaterial. (…) Ao se unir à Ilha Grande, o sítio torna-se ainda mais representativo com áreas de beleza natural excepcional”, acrescenta Noleto.

A presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional do Brasil (Iphan), Kátia Bogéa, congratulou-se com a distinção: “Nós, orgulhosamente, voltamos para casa com esse título na bagagem. Em Paraty e Ilha Grande, uma área com diversas reservas ecológicas, vemos de maneira excepcional e única uma conjunção de beleza natural, biodiversidade ímpar, manifestações culturais, um fabuloso conjunto histórico e importantes testemunhos arqueológicos para a compreensão da evolução da humanidade no planeta Terra”, declarou.

Trata-se da primeira candidatura de natureza mista (património cultural e natural) do Brasil, que conta agora com 22 locais na lista de sítios reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Das 1.092 propriedades inscritas na Lista do Património Mundial, apenas 38 são mistas.

 Riqueza natural e histórica

A área reconhecida abrange 149 mil hectares e inclui o centro histórico de Paraty (fundado em 1667 e declarado património histórico no Brasil em 1958) e quatro reservas naturais ao redor, incluindo a Serra de Bocaina, cujo pico máximo atinge 2.088 metros de altitude. A praias paradisíacas da Ilha Grande, uma grande atracção turística da chamada “Costa Verde” carioca também integra a região agora consagrada como Património Mundial.

O governo brasileiro centrou a candidatura na coexistência de culturas locais – indígenas, quilombolas (descendentes de negros escravizados) e comunidades costeiras de pescadores e artesãos, numa área com uma biodiversidade muito rica.

De acordo com o Iphan, 85 por cento da Mata Atlântica – um bioma que se estende por toda a costa brasileira – está preservada nessa área. A candidatura listou 36 espécies de plantas consideradas raras, sendo 29 endémicas, ou seja, exclusivas daquela região.

Espécies ameaçadas, como a onça-pintada, a anta, ou o macaco muriqui, principal primata da América do Sul, vivem nesta região, que também concentra 45 por cento das aves e 34 por cento dos sapos que vivem nas florestas atlânticas do Brasil.

O bioma da área reconhecida pela UNESCO também inclui uma imensa baía com 187 ilhas revestidas de vegetação nativa e uma rica diversidade marinha, que, apesar de não fazer parte do principal núcleo de protecção, terá regras para restringir a actividade humana e evitar o impacto no meio ambiente.

Entre os tesouros históricos de Paraty e da Ilha Grande, está um trecho da Estrada do Ouro, construída por escravos entre os séculos XVII e XIX, por onde transportavam os metais preciosos extraídos no interior de Minas Gerais até ao porto de Paraty, de onde seguiam para Portugal.

Antigas fazendas, fortificações, alambiques de cachaça e sítios arqueológicos fazem parte do circuito histórico. A cidade, de cerca de 37.000 habitantes, recebe anualmente a Feira Literária Internacional (Flip) e outros eventos culturais.

De acordo com as autoridades locais, o reconhecimento servirá para conduzir melhorias estruturais na cidade, como o sistema de saneamento, que ainda é precário.

É a segunda vez que o Brasil indica Paraty como candidata à lista de Património Histórico da Humanidade. A vez anterior, sem sucesso, foi em 2009.

Outras distinções

A UNESCO  também inscreveu na sexta-feira na lista do Património mundial o conjunto mesopotâmico da Babilônia, no Iraque, um país devastado há 40 anos por conflitos e onde grupos extremistas destruíram vários tesouros da Antiguidade.

As autoridades arqueológicas iraquianas conseguiram convencer o júri a incluir na lista este conjunto de 10 km2 – dos quais apenas 15 por cento foram escavados, localizado a cerca de cem quilómetros a sul de Bagdad

De acordo com as autoridades iraquianas, a antiga cidade da Babilónia, com mais de 4.000 anos, “era a maior cidade habitada da história antiga (…) e os babilónios eram a civilização da escritura, administração e ciência”.

Da mesma forma, o Parque Nacional Vatnajokull, na Islândia, o maior da Europa e com uma paisagem de “fogo e gelo”, passou a fazer parte da lista do Património Mundial. Formado por vulcões e rodeado por campos de lava, o parque serve de casa ao maior glaciar da Europa.

A área protegida com cerca de 14.500 quilómetros quadrados – ou 14 por cento de todo país – é “um exemplo excepcional tanto da interação do gelo e do fogo quanto da separação das placas tectónias terrestres na Terra”, de acordo com a UNESCO.

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