A universidade mais antiga de Hong Kong iniciou na madrugada de quinta-feira a remoção de uma escultura em memória das vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido a 4 de Junho de 1989.
“A decisão sobre a estátua, bastante envelhecida, teve por base aconselhamento jurídico externo e uma análise dos riscos, tendo em vista o melhor interesse da universidade”, explicou a instituição.
A operação nocturna para remover a estátua foi criticada por activistas pró-democracia de Hong Kong e ainda por um antigo estudante que sobreviveu ao massacre de Tiananmen, que denominou a medida como um “acto desprezível”.
A escultura, chamada Pilar da Vergonha, de oito metros de altura, um obra de Jens Galschiot, estava no campus da Universidade de Hong Kong (HKU) desde 1997, ano em que a antiga colónia britânica regressou à soberania chinesa.
Em Outubro, o conselho de administração da instituição ordenou a remoção da escultura, que retrata 50 rostos angustiados e corpos dilacerados empilhados uns sobre os outros. A obra é uma homenagem aos manifestantes pró-democracia mortos pelas tropas chinesas em 1989.
Lâminas de plástico foram colocadas sobre o monumento, que também foi cercado por barreiras. Os seguranças impediram a aproximação dos jornalistas, ao mesmo tempo que tentavam evitar filmagens.
Trabalhadores munidos de capacetes foram vistos a manobrar um guindaste para remover uma grande parte da escultura, envolvida em plástico, para um contentor próximo.
Num comunicado, a instituição afirmou que a estátua seria armazenada. A universidade também alega que nunca deu autorização formal para a exposição da escultura e baseia a retirada num decreto datado do período colonial.
Esta lei inclui o crime de sedição e, ao lado da lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020, tem sido usada pelas autoridades para criminalizar os dissidentes.
Para Galschiot, é “estranho” e “chocante” que a universidade se prepare para retirar a obra, que segundo ele, continua a ser propriedade sua: “É uma escultura muito cara. Se a destruírem, é claro que avançarei com um processo”, disse à AFP.
O escultor dinamarquês afirmou que tentou entrar em contacto com a universidade várias vezes através dos seus advogados e que se ofereceu para recuperar a obra. Galshiot lamenta quea Universidade nunca tenho respondido ou avisado sobre a sua retirada.
Dissidentes criticam remoção do pilar
“Usaram este acto desprezível para tentar apagar este capítulo sangrento da história”, escreveu no Facebook Wang Dan, um dos líderes estudantis de Tianmanmen que foi preso após a repressão e agora mora nos Estados Unidos da Américo.
Nathan Law, um antigo deputado pró-democracia de Hong Kong que fugiu no ano passado para o Reino Unido, disse que a estátua viverá na memória das pessoas: “O pilar da vergonha foi removido, mas a memória permanece. Devemos nos lembrar do que aconteceu a 4 de Junho de 1989”, escreveu Law no Twitter.
Durante anos, Hong Kong e Macau foram os únicos lugares na China onde a lembrança do massacre de Tiananmen era tolerada, o que ocorria a cada 4 de Julho com vigílias. Em Hong Kong havia mesmo um museu em homenagem às vítimas.
Sob o argumento da crise sanitária e por razões de segurança, após as grandes manifestações pró-democracia de 2019, as vigílias de Tiananmen de 2020 e 2021 foram proibidas. Os seus organizadores foram perseguidos, e o museu que administravam, encerrado.
Vários activistas que participaram na primeira vigília proibida de 2020 foram condenados nos últimos meses por incitar e participar numa reunião não autorizada.
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