Alemanha recordou vítimas do nazismo

A presidente da Comunidade Israelita em Munique, Charlotte Knobloch, afirmou esta quarta-feira que lutar contra o antissemitismo é “lutar pela dignidade do ser humano, a democracia, a unidade, o direito e a liberdade” e advertiu contra a extrema-direita, a principal ameaça.

Num discurso no Bundestag, o Parlamento Federal alemão, no 76º aniversário da libertação do campo de extermínio nazi de Auschwitz, Knobloch, de 88 anos e sobrevivente do Holocausto, ressaltou que não se trata apenas de proteger os judeus.

“Onde o antissemitismo encontra o seu espaço, qualquer forma de ódio se pode estender”, seja o racismo, homofobia, misoginia, “o desprezo pelo ser humano de qualquer tipo”, disse.

Knobloch acrescentou que as ideologias e discursos antissemitas “voltam a ter aceitação, nas escolas e nas manifestações contra as medidas para conter a pandemia de coronavírus”, e aludiu ao perigo da internet como “incitador de ódio e assédio se todo o tipo”.

Também salientou que qualquer pessoa que equipare medidas para conter a pandemia ao nazismo “trivializa o terror de Estado antissemita e o Holocausto”, o que descreveu como “inaceitável”.

A principal ameaça vem da extrema-direita, disse, embora o antissemitismo também esteja “profundamente enraizado” na extrema-esquerda, ao qual se junta o ódio radical islâmico a todas as coisas judaicas.

Knobloch disse falar como “alemã orgulhosa” perante o Bundestag e afirmou que todos podem estar orgulhosos da República Federal da Alemanha, que, recordou, deve ser defendida.

Dirigiu este apelo em particular aos membros do Parlamento, embora “explicitamente não à extrema-direita do plenário”, a quem disse que “perderam a sua luta há 76 anos”: “Não podemos esquecer nem um só dia como são frágeis as preciosas conquistas dos últimos 76 anos”, advertiu.

A publicista e membro dos Verdes, Marina Weisband, de 33 anos, que emigrou com os seus pais da Ucrânia em 1994, falou no evento como “uma representante dos descendentes, de uma geração muito diversificada de jovens judeus” que agora devem encontrar o seu caminho para manter a memória do Holocausto.

Weisband afirmou que na Alemanha ainda é perigoso para os judeus “serem visíveis” e acrescentou que “ser simplesmente uma pessoa”, sem categorização, é um “privilégio” reservado apenas para aqueles “que não têm nada a temer porque nasceram”.

“Ser simplesmente uma pessoa” implica tornar as estruturas de repressão invisíveis, “porque qualquer repressão, seja ela sexismo, racismo, antissemitismo, vive de ser invisível para os que não são afectados”, disse.

Weisband acrescentou que a convicção de que há pessoas cuja dignidade tem mais valor, que merecem mais espaço nesta sociedade do que outras, ainda não foi erradicada.

Por sua parte, o presidente do Bundestag, Wolfgang Schäuble, descreveu a judaico-alemã como uma “história de contradições”, com “fases de tolerância e tempos de exclusão, com ondas de perseguição e sucessos na arte, cultura, ciência e economia”.

“E conhece um crime contra a humanidade: a tentativa de apagar a história judaica não só da história alemã, mas da história mundial”, acrescentou.

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