“Polarstern” regressa do Árctico com uma mensagem preocupante

Ao fim de um ano de investigação no Polo Norte, a maior expedição científica organizada neste século ao extremo norte do planeta regressa à Alemanha na próxima segunda-feira na posse de  uma conclusão preocupante: a camada de gelo do Árctico está a derreter “a um ritmo alarmante”.

Devido à pandemia do novo coronavírus, o regresso do navio quebra-gelo “Polarstern”, do Instituto Alfred-Wegener alemão, ao seu porto natal de Bremerhaven, no noroeste do país, será feito com relativa discrição.

Mas os dados abrangentes que as equipes internacionais reuniram durante os meses em que o navio de investigação científica explorou o Polo Norte fornecerão informações valiosas sobre as mudanças climáticas.

Durante o Verão, os cientistas puderam ver com os próprios olhos o avanço do retrocesso da calote polar nessa região, considerada pelos cientistas como “o epicentro do aquecimento global”, de acordo com o chefe da missão, Markus Rex.

 “Gelo cheio de buracos”

“Vimos grandes superfícies de água líquida quase até ao polo, rodeadas por gelo crivado de buracos, devido ao degelo maciço”, disse o climatologista e físico.

“A camada de gelo do Árctico está a derreter a um ritmo alarmante”, avisa Rez.

O diagnóstico é confirmado por observações feitas por satélites pertencentes aos Estados Unidos, que revelaram que o banco de gelo derreteu até representar uma superfície que é a segunda menor registada historicamente, depois de 2012 ter sido um ano mais extremo.

Durante 389 dias, a missão, baptizada de MOSAIC, estudou a atmosfera, o oceano, a camada de gelo e o ecossistema para recolher dados que avaliarão o impacto das mudanças climáticas na região e no mundo. A análise completa dos dados deve levar de um a dois anos.

O objectivo é desenvolver modelos de previsão do clima para determinar como serão as ondas de calor, chuvas fortes, ou tempestades daqui a 20, 50, ou  a 100 anos.

“Para construir modelos climáticos, precisamos de observações in situ”, explica à AFP Radiance Calmer, investigadora de ciências atmosféricas da Universidade americana do Colorado que esteve a bordo do “Polarstern” entre Junho a Setembro.

Com a ajuda de um drone, “medimos a temperatura, a humidade, a pressão e o vento”, o que “nos dará uma imagem muito útil da camada atmosférica para estabelecer um modelo climático”, diz a cientista, que descreve como “mágico” o momento em que caminhou sobre a calote polar.

“É possível sentir como se movimenta com um pouco de concentração (…) É importante ter esse tempo para observar, não apenas para nos focarmos no trabalho”, explicou.

Desde a partida da expedição de Tromsø, na Noruega, a 20 de Setembro de 2019, os cientistas passaram longos meses na escuridão absoluta, com temperaturas que caíram até aos -39,5°C, e foram visitados por cerca de 20 ursos polares.

Na Primavera, a pandemia de coronavírus interrompeu a aventura, pois as equipes tiveram de ficar por mais dois meses no Polo Norte.

Ao todo, centenas de especialistas e cientistas de 20 países diferentes permaneceram no navio alemão, que deslizou ao longo do gelo após a chamada deriva polar, a corrente oceânica que flui de leste a oeste no oceano Árctico.

Os investigadores também estudaram a vida sob o gelo e recolheram amostras de água para analisar o plâncton vegetal e as bactérias. O objectivo é entender melhor o funcionamento do ecossistema em condições extremas.

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.