O escritor argentino Alberto Manguel, um dos nomes cimeiros das letras sul-americanas, decidiu doar a sua biblioteca, composta por cerca de 40.000 volumes, à Câmara Municipal de Lisboa. A autarquia da capital portuguesa tenciona acolhê-los numa nova instalação que irá baptizar com o nome de Centro de Estudos da História da Leitura.
Fontes próximas do escritor disseram à agência Efe que Manguel, nascido em Buenos Aires, em 1948, deverá chegar a Lisboa nos próximos dias. O anúncio será formalizado no próximo sábado durante a Feira do Livro que decorre na capital portuguesa.
A biblioteca do autor de “Uma História Natural da Curiosidade” será instalada num palacete que acolherá o futuro Centro de Estudos da História da Leitura, organismo cuja criação será também anunciada oficialmente no próximo sábado.
A instituição, disse a Câmara Municipal em comunicado, será “um ponto de encontro de culturas e línguas, internacional e intercultural”.
Após a doação, o autor de “A Cidade das Palavras” vai-se instalar na capital portuguesa e dirigirá outro futuro Centro, o da História do Livro da cidade.
Com estas instalações e a impressionante biblioteca de Manguel, a Câmara Municipal pretende que Lisboa seja considerada uma “cidade literária”, apoiada pela “rede de contactos muito interessante” que o autor argentino possui e que pode ajudar a formar o conselho de honra que deverá vir a ajudar a gerir o centro dedicado à leitura.
Entre os nomes que estão a ser considerados para compor este quadro estão Salman Rushdie, Margaret Atwood, Chico Buarque ou o português Tolentino Mendonça.
Espera-se que o Centro de Estudo da História da Leitura não seja apenas dedicado aos investigadores, mas que seja também se constitua como uma biblioteca de acesso livre, embora os detalhes estejam reservados para a apresentação oficial no fim de semana.
O evento vai também discutir a abertura do centro que albergará os volumes de Manguel, um palacete na cobiçada Rua das Janelas Verdes que será remodelado, com previsão de que as portas abram ao público dentro de um ou dois anos.
Manguel, 72 anos, é o autor de dezenas de livros, incluindo “Uma História da Leitura” (1996) e o “Dicionário de Lugares Imaginários”, ainda que em colaboração com Gianni Guadalupi.
Foi a consagração de um escritor que, quando adolescente, conheceu Jorge Luis Borges na sua Argentina natal, ao qual lia no seu apartamento quando o génio já estava quase completamente cego.
Em 1982 estabeleceu-se no Canadá e tornou-se cidadão canadiano, embora tenha deixado o país em 2000 para se mudar para França, levando consigo a sua enorme biblioteca, que teve de albergar num presbitério medieval, dado o seu tamanho.
A transferência dos seus volumes, que foi repetida rumo a Nova Iorque em 2015, chegou a protagonizar uma das suas obras, “Embalando a Minha Biblioteca” (2018), um cenário que se repetirá agora a caminho da capital portuguesa.
Leave a Reply