A República Popular da China traiu o povo de Hong Kong e o Ocidente deve deixar de bajular Pequim a troco de um pote ilusório de ouro, defendeu Chris Patten, o último governador da antiga colónia britânica.
Pequim deve impor uma nova lei de segurança do Estado na vizinha Região Administrativa Especial na resposta a uma longa campanha de protestos pró-democracia ocorridos na RAEHK durante todo o ano passado. O território ainda dispõe de liberdades mais amplas do que as que estão disponíveis no Continente.
“O povo de Hong Kong foi traído pela China”, defendeu Chris Patten ao jornal The Times. De acordo com o último governador, o Reino Unido tem o dever “moral, económico e legal” de defender Hong Kong.
Patten, que tem 76 anos, viu a bandeira britânica ser retirada de Hong Kong quando a colónia regressou à soberania chinesa em 1997, ao fim de mais de 150 anos de domínio britânico, imposto após o país ter derrotado o Império do Meio na Primeira Guerra do Ópio.
A autonomia de Hong Kong foi garantida ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas”, acordado na Declaração Conjunta Sino-Britânica de 1984, assinado pelo então primeiro-ministro chinês, Zhao Ziyang, e pela sua homóloga britânica, Margaret Thatcher.
Mas, de acordo com Patten, a imposição da leis da segurança do Estado sem que as entidades políticas de Hong Kong se manifestem é suficiente para colocar a Declaração em causa. Os Estados Unidos da América — que consideraram a legislação uma “sentença de morte” para a autonomia da cidade — e o Reino Unido disseram estar profundamente preocupados com a lei, que no seu entender mina o princípio “Um País, Dois Sistemas”: “O que estamos a ver é uma nova ditadura chinesa”, disse Patten. “O governo britânico deve deixar claro que aquilo a que estamos a assistir é uma violação completa da Declaração Conjunta.”
OURO CHINÊS
O presidente norte-americano, Donald Trump, alertou que Washington pode vier a reagir “muito fortemente” se Pequim seguir avante com a lei.
A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, esclareceu que o seu governo vai “cooperar totalmente” com a Assembleia Nacional Popular para garantir a segurança nacional. A cooperação, garante Lam, não vai afectar os direitos, as liberdades e a independência judicial da cidade.
Patten considera que o Ocidente deve parar de ambicionar ser parte da ilusória promessa da riqueza chinesa e que os britânicos deviam ponderar com cuidado o envolvimento da empresa de telecomunicações Huawei no desenvolvimento da rede de 5G: “Devemos parar de sermos feitos de idiotas com a ilusão de que, no final de toda essa ilusão, há um pote de ouro à nossa espera. Sempre foi uma ilusão”, afirmou Patten. “Precisamos de parar de nos enganar e de acreditar que, se não fizermos tudo o que a China quer, vamos perder grandes oportunidades comerciais de uma ou de outra forma. É conversa fiada.”
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, planeia reduzir a participação da Huawei na rede 5G britânica após a crise do coronavírus, informou o jornal The Daily Telegraph.
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