
Alguns magnatas da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong começaram a transferir a riqueza pessoal para outras jurisdições, à medida que aumenta a preocupação no território vizinho com a influência, cada vez mais notada, de Pequim nos assuntos internos da antiga colónia britânica. O plano de legislar emendas à lei da extradição, este sábado suspenso pelo Governo, espalhou receios mesmo entre os mais endinheirados, disseram à agência Reuters bancários e consultores financeiros.
Um magnata, que se considera a si mesmo como politicamente vulnerável, começou a transferir mais de cem milhões de dólares norte-americanos de uma conta da filial local do Citibank para uma conta da filial de Singapura da mesma instituição bancária, disse à agência noticiosa um consultor envolvido nas transacção.
“Já começou. O que se ouve por aí é que há outros a fazer o mesmo, mas ninguém vem para a rua com cartazes a dizer que está a colocar o dinheiro fora de Hong Kong”, disse o consultor. “Existe o receio de que, mais tarde ou mais cedo, Pequim deite a mão aos activos de Hong Kong. Singapura é o destino favorito”.
Hong Kong e Singapura têm vindo a competir ferozmente com o propósito de garantir o ceptro de principal centro financeiro da Ásia. A lei da extradição suscitou uma preocupação transversal a todos os quadrantes da sociedade de que o diploma possa minar o primado da lei em que se alicerça o estatuto de Hong Kong como centro financeiro internacional.
Simon Young, da Faculdade de Direito da Universidade de Hong Kong, disse à agência Reuters que é compreensível que alguns residentes da antiga colónia britânica se possam sentir tentados a transferir a riqueza pessoal para outras jurisdições, dado o impacto que a medida pode vir a ter no sector financeiro.
Se a proposta, entretanto suspensa, for legislada os tribunais da República Popular da China podem pedir aos tribunais da Região Administrativa Especial que os activos depositados em Hong Kong que estejam relacionados com crimes cometidos no Continente podem ser congelados e confiscados: “Este aspecto foi amplamente negligenciado no debate público sobre a lei da extradição, mas é uma aspecto muito significativo do diploma”, Young disse. “É pouco provável, obviamente, que tenha sido negligenciado pelo magnatas e por aqueles que lhes prestam serviços jurídicos”, considera o académico.
O director de operações de private banking de um grande banco internacional com escritórios em Hong Kong confirmou, em declarações à agência Reuters, que alguns clientes decidiram transferir a riqueza pessoal da antiga colónia britânica para Singapura: “Não se trata de clientes da República Popular da China que possam estar politicamente expostos. São, isso sim, clientes endinheirados de Hong Kong”, disse o bancário. “A situação em Hong Kong está fora de controlo. Estes clientes não conseguem acreditar que Carrie Lam ou a liderança em Pequim sejam tão estúpidos que não se apercebam dos danos que estão a causar à economia de Hong Kong”, disse o responsável, escudado pelo anonimato.
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