
Em Xinjiang, uma Região Autónoma do noroeste da China com forte população muçulmana, o final do período do Ramadão foi celebrado sob forte vigilância do Governo. O aparato policial foi particularmente visível num parque de estacionamento construído no local onde se encontrava uma importante mesquita, a de Heyitkah.
A região tem sido, ao longo dos últimos anos, palco de intensas tensões entre os Han e a etnia uigur, muçulmanos cujo idioma é aparentado ao turco.
Na sequência de distúrbios e de vários ataques contra interesses explorados pelos Han, Pequim implementou fortes medidas de vigilância e começou a trabalhar para “tornar mais chinesa” a religião, em nome da luta contra o islamismo, o “terrorismo” e o separatismo. Dezenas de mesquitas foram destruídas.
Na cidade de Hotan, por detrás do local onde ficava a mesquita de Heyitkah, o lema “Educar as massas para o Partido Comunista” aparece em destaque em letras vermelhas pintadas no muro da escola primária, onde os alunos tem que se submeter a tecnologia de reconhecimento facial antes de entrar por uma cerca de arame farpado.
A mesquita “era magnífica”, garante um comerciante que trabalha numa loja ao lado. “Havia muita gente”, principalmente durante as grandes festas, como a de Eid al-Fitr, celebrada esta semana pelos muçulmanos do mundo inteiro.
Detectores de metais por todo o lado
De acordo com imagens de satélite analisadas pela AFP e pela associação Earthrise Alliance, desde 2017 desapareceram 30 mesquitas em Xinjiang e outras seis foram desconfiguradas, depois das autoridades terem ordenado a retirada de cúpulas e minaretes.

Os terrenos onde funcionavam as mesquitas destruídas estão agora ocupados por locais públicos, como jardins ou parques de estacionamento.
Os uigures consideram as mesquitas como “uma herança cultural”, informou Omer Kanat, diretor do Projecto de Direitos Humanos Uigur, um movimento de exilados uigures com sede em Washington: “O governo chinês quer apagar tudo aquilo que for uigur, tudo o que for diferente dos costumes chineses”, acusou.
No governo local, ninguém fala sobre a destruição das mesquitas.
Por outro lado, o acesso às mesquitas que ainda subsistem é feito através de portais de detecção. No interior desses edifícios, as câmaras de vigilância estão presentes em todo o lado. “Deixei de frequentar as mesquitas”, disse à France Press um uigur, que prefere o anonimato por temer sanções.
De acordo com várias organizações de defesa dos direitos humanos, mais de um milhão de muçulmanos foram ou estão detidos em Xinjiang em campos de reeducação política, às vezes por motivos tão superficiais como o uso do véu por parte das mulheres ou de barbas compridas por parte dos homens.
Na sexta-feira à noite em Hotan, a única mesquita da cidade permanecia de portas fechadas logo após o anoitecer, quando termina o período de jejum.
O silêncio do almuadém
Em Kashgar, a cerca de uma centena de quilómetros da fronteira com o Quirguistão, o grito do almuadém que convoca os fieis deixou de se fazer ouvir. Na quarta-feira, para celebrar o fim do Ramadão, os fiéis faziam fila para se aproximar da mesquita de Idkah, uma das maiores do país, atravessando um cordão de policiais uniformizados.

O governo de Xinjiang garante que defende a liberdade religiosa e que os habitantes podem celebrar o Ramadão “dentro dos limites da lei”. A cidade conta com mais de 150 mesquitas, segundo o imã de Idkah, Juma Maimaiti: “Em Kashgar não foram demolidas quaisquer mesquitas. O governo protege algumas mesquitas importantes”, declarou numa entrevista conduzida na presença das autoridades locais.
No sul de Kashgar, um retrato gigante do presidente Xi Jinping está afixado no interior de uma mesquita. Em vários locais de culto da região é possível ler frases que estimulam uma versão patriótica e higienizada do Islão: “amar o partido e o país” e “recusar o extremismo”.
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