Nem os burros escapam ao voraz apetite da China

A organização não-governamental (ONG) Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA) pediu na quinta-feira às autoridades do Quénia para que coloquem fim ao que diz ser um “massacre de burros”. A carne e a pele dos animais são exportadas para a China para serem usadas na medicina tradicional chinesa.

“A PETA apela ao Quénia para que se junte a muitos outros países africanos na interdição do abate de burros. Não há nada que justifique esta crueldade, nem mesmo algo que comprove a sua eficácia”, disse agência France-Presse um porta-voz da organização, Ashley Fruno.

De acordo com uma recente investigação realizada pela PETA Asia, o grupo testemunhou “abusos horríveis dentro da indústria de matança de burros”, que são mortos para obter as peles dos animais.

Destas peles, que têm um reduzido valor comercial em África, é depois extraída uma gelatina que é utilizada num composto recorrente na medicina tradicional chinesa chamada ‘ejiao’, que se acredita poder tratar anemias e aliviar os sintomas da menopausa. Nas regiões setentrionais da China, a carne de burro é também consumida em estufados ou sob a forma de sandwiches.

Enquanto principal mercado deste produto, a República Popular da China viu a população de burros no seu território diminuir drasticamente nos últimos 20 anos, o que levou o país a focar-se em África.

Com este interesse, vários países africanos passaram a limitar a exportação de peles de burro e fecharam matadouros chineses que operavam nos respectivos territórios.

Num vídeo partilhado na quinta-feira pela PETA Asia no portal Youtube, o grupo denuncia a violência a que os burros são sujeitos em “matadouros sancionados pelo Estado”.

No seu comunicado, a PETA Asia refere que três matadouros de burros começaram a operar no Quénia nos últimos três anos. Os animais são transportados para o país em camiões, vindos de nações vizinhas que proíbem a prática, como a Etiópia, a Tanzânia e o Uganda.

A organização assinala também que uma parte dos animais morre durante a viagem, que se pode prolongar por vários dias: “Não há praticamente leis contra o abuso de animais em quintas ou matadouros no Quénia, por isso nenhuma da violência capturada em vídeo é punível do ponto de vista legal”, referiu a PETA.

Nesse sentido, a organização não governamental diz que, em conjunto com os seus afiliados, tem “pressionado membros do Governo, companhias e consumidores pelo mundo para que parem de apoiar esta indústria cruel”, assinalando que “há imensas alternativas ao ‘ejiao’, incluindo farmacêuticos modernos e ervas medicinais que são mais eficazes e não requerem que animais sejam mortos”.

Contactado pela AFP sobre o assunto, o Governo do Quénia não respondeu às questões. A AFP entrou também em contacto com um gestor de um dos matadouros em que a PETA observou violência, que negou as acusações:

“Quem diga que viu burros a serem agredidos no meu matadouro é um mentiroso e deve procurar um outro assunto de conversa”, disse à AFP John Kariuki, administrador do espaço.

A organização filantrópica britânica Donkey Sanctuary estima que haja 2,4 milhões de burros na África Oriental e que, só no Quénia, sejam mortos, diariamente, dois mil burros.

Num estudo datado de 2015, a Donkey Sanctuary estimou que o valor económico de um burro no Quénia se situava em 2.200 dólares (1.900 euros).

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.