“Vamos continuar a trabalhar para honrar a obra dos nossos antepassados”

Foi fundada antes ainda da Diocese de Macau ter sido criada, antecipou-se à constituição do Leal Senado e permanece como um dos mais significativos bastiões do legado de Portugal em Macau. A história da Santa Casa da Misericórdia confunde-se com a do próprio território. A mais antiga instituição de solidariedade social de Macau comemora esta semana 450 anos com a organização, pela primeira vez na RAEM, do Congresso da Confederação Internacional das Misericórdias. O evento, que arranca esta segunda-feira e se estende por três dias, traz ao território cerca de duas centenas de delegados dos países onde as “obras de Misericórdia” estão presentes.  Provedor da Santa Casa desde 2000, António José de Freitas fala da recente visita de Marcelo Rebelo de Sousa e mostra-se convicto que as novas gerações de macaenses vão saber respeitar e acarinhar os quase cinco séculos de história da instituição.

A Misericórdia tem, ao longo das duas últimas décadas, consigo na provedoria reforçado a ligação com Portugal, reforçado os contactos com as Misericórdias Portuguesas. Neste Congresso que Macau se prepara para acolher, esta perspectiva de irmandade, de irmandade intercontinental é para reforçar?

Com certeza. Antes da transferência de soberania, Macau teve que deixar de ser membro da União das Misericórdias Portuguesas. Foi algo que aconteceu porque  tinha que ser. Só a partir do ano 2002 é que esta Santa Casa integrou a Federação Internacional das Misericórdias. Esta integração da Misericórdia de Macau na Confederação Internacional veio, precisamente, reforçar os contactos e a ligação com outras misericórdias, nomeadamente as Misericórdias de Portugal e do Brasil, mas também de outros países.

Este Congresso é uma forma da Santa Casa fomentar esse intercâmbio de que fala?

Este Congresso que se vai realizar pela primeira vez em Macau tem a duração de três dias. É a primeira vez que o território acolhe congressistas de misericórdias provenientes de Portugal, do Brasil, da Itália, da França, de Moçambique e é uma boa oportunidade também para que, em conjunto, possamos debater alguns temas sobre os trabalhos dinamizados pelas Misericórdias, como a protecção à velhice ou outros domínios da assistência social.

Quantas pessoas são esperadas nesta iniciativa? Aqui há uns anos a Santa Casa da Misericórdia assinou com a congénere do Porto um memorando de entendimento sobretudo nesta área da acção social,  destinada a promover a troca de experiências. Este Congresso também vai servir para isso também?

Com certeza. É algo que não vai apenas ser debatido e que vai ser feito. Vão estar presentes no Congresso cerca de duzentas pessoas, entre as quais estão Provedores de várias misericórdias. Os participantes deslocam-se a Macau com o propósito de comemorar com a Santa Casa os seus 450 anos. Aproveitamos esta ocasião para celebrar o aniversário e também promover este Congresso.

A Santa Casa da Misericórdia é a mais antiga instituição de Macau. É anterior ainda à própria fundação da Diocese de Macau, do Leal Senado. No ano em que a Santa Casa cumpre 450 anos, recebeu a visita do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. É um reconhecimento, por parte da Presidência da República de Portugal, não só da história, mas também do trabalho que a Santa Casa faz …

É natural que esta visita tem um significado muitíssimo elevado, como sabe. Macau completa vinte anos do estabelecimento da RAEM e é muito importante esta visita, sobretudo nesta fase em que as relações de amizade entre Portugal e a República Popular da China estão no seu auge. É uma iniciativa que vem consolidar a nossa presença aqui em Macau e também a nossa ligação, digamos assim, com as outras Misericórdias espalhadas por outros continentes. Como disse, de facto a Santa Casa é a única instituição viva em Macau em termos de Misericórdia. É a mais antiga e naturalmente que vamos continuar a trabalhar, vamos continuar a honrar a obra dos nossos antepassados e cumprir essa missão histórica. Eu estou convencido que neste momento a Misericórdia de Macau tem todas as condições para continuar as suas acções e as nossas gerações vindouras, com certeza, saberão conduzir melhor os destinos e vão celebrar, com certeza, aqui em Macau o quinto centenário da Santa Casa da Misericórdia.

Foi distinguido por Marcelo rebelo de Sousa pelo trabalho desenvolvido à frente dos destinos da Santa Casa da Misericórdia …

Naturalmente que fiquei muito emocionado. Primeiro, tenho que agradecer este reconhecimento da Presidência, do Sr. Presidente da República de Portugal. Faço-o em nome da Irmandade toda, com quem eu tenho tido o prazer e o gosto de trabalhar já lá vão vinte anos. Vai fazer vinte anos. Sempre disse que sou o provedor do novo milénio. Eu assumi a provedoria no dia 1 de Janeiro do ano 2000. Vou completar este ano o décimo mandato. São mandatos de dois anos. Tenho, naturalmente, de dedicar esta distinção a todos os irmãos, aos trabalhadores da Santa Casa, porque o trabalho desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia é um trabalho colectivo, é um trabalho de equipa, a favor da colectividade. Vamos continuar. Esta medalha, esta distinção, dá-nos ainda mais força, um novo alento para prosseguirmos a nossa missão.

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