Medicina estética sem bisturi faz sucesso na China

Fotografia: Olga Guryanova/Unsplash

É hora do almoço e a fila é enorme. Não propriamente à frente do restaurante mais popular de Xangai, mas de uma clínica de “medicina estética”, uma alternativa menos invasiva à cirurgia, que está a ganhar popularidade na República Popular da China.

Lasers, injeções de ácido hialurónico, peelings. Na era das selfies, as técnicas mais rápidas e suaves, que dispensam a passagem por uma sala de cirurgia, seduzem uma nova geração de chineses.

Kayla Zhang, de 27 anos, não planeia passar pelo bisturi. Em vez disso, pagou um tratamento a laser, com injeções e colocou fios tensores sob a pele do rosto: “Não vou mudar o meu nariz ou os meus olhos. Seria uma mudança excessiva na minha aparência”, explica a jovem à AFP, que afirma procurar apenas uma “versão melhor” de si mesma em vez de um “rosto totalmente novo”.

Populares no Ocidente, os métodos – menos invasivos e mais baratos do que a cirurgia estética – estão a tornar-se muito acessíveis nas metrópoles chinesas à medida que a qualidade de vida aumenta.

De acordo com a Associação Chinesa de Cirurgia Plástica e Estética, o sector deve movimentar 300 mil milhões de yuans este ano, sete vezes mais do que em 2013.

As técnicas não invasivas representam um segmento muito importante dessa tendência, enquanto a cirurgia perde fôlego, de acordo com a empresa americana de consultoria empresarial Frost & Sullivan.

“Padrões de beleza irrealistas”

Mas as autoridades estão a tentar evitar que a indústria se desenvolva de forma caótica: proíbem práticas de publicidade que contribuam para “problemas de aparência” e complexos físicos.

As clínicas especializadas não podem apresentar fotos “antes e depois” de uma intervenção ou promover “padrões de beleza irrealistas”.

Em 2021, as autoridades impuseram multas de dezenas de milhões de dólares por várias infracções.

Li Li, uma modelo profissional de 27 anos, recebe tratamentos a laser todos os meses para corrigir manchas na pele. Mas diz que sente pressão social para melhorar continuamente a sua imagem.

Após comentários dos amigos sobre as suas feições de seu rosto, em proporções consideradas como não ideais por eles, decidiu preencher o rosto:  “Fui rápida em fazer isso”, explica.

De acordo com a empresa de auditoria britânica Deloitte, as intervenções custam em média um terço do preço das operações de cirurgia estética.

O médico especialista Yang Kaiyuan sublinha que, há dez anos, os seus clientes costumavam mostrar-lhes a foto de uma celebridade e diziam: “Quero ficar assim”.

“Hoje, as pessoas desejam principalmente pequenas melhorias na sua aparência”, explica Yang.

No entanto, o aumento do número de estabelecimentos não autorizados preocupa as autoridades. Em 2019, 15 por cento das 13.000 clínicas de beleza autorizadas trabalhavam fora dos seus campos de actividade definidos, de acordo com um relatório do gabinete iResearch de Xangai.

De acordo com o mesmo estudo, uma em cada três agulhas em circulação não era certificada.

No início de 2021, uma actriz postou nas redes sociais imagens do seu nariz com a ponta necrosada após uma operação que não correu bem.

Mas, para Ken Huang, presidente da clínica PhiSkin em Xangai, os incidentes não fizeram diminuir a popularidade dos tratamentos cosméticos entre os jovens chineses que desejam melhorar a sua aparência ou aumentar as suas oportunidades no mercado de trabalho: “As Pessoas bonitas têm mais oportunidades do que outras”, diz. “Se você não for atraente por fora, mesmo que tenha uma personalidade interessante, as pessoas podem não ter a oportunidade de as ver.”

 

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