As autoridades de saúde do Nepal lutam para conter o aumento repentino de casos de Covid-19, favorecido pelo terrível surto epidémico na vizinha Índia. Em três semanas, as infecções aceleraram acentuadamente, com dois em cada cinco testes positivos. Na quinta-feira, o país de cerca de 30 milhões de habitantes registou um recorde de casos diários: 8.970.
Das mais de 3.500 mortes registadas desde o início da pandemia, 400 ocorreram nas últimas duas semanas, de acordo com dados oficiais: “Os serviços de saúde estão sobrecarregados (…) E a situação pode piorar nos próximos dias”, declarou à AFP Hemanta Chandra Ojha, da Divisão de Epidemiologia e Controlo de Doenças. “Temos oxigénio, mas faltam ventiladores e camas em unidades de cuidados intensivos para tratar os casos graves”.
A fronteira de 1.850 km entre a Índia e o Nepal está aberta e as pessoas cruzam-na para trabalhar ou visitar parentes.
No hospital Bheri em Nepalgunj, cidade que faz fronteira com o estado indiano de Uttar Pradesh, os profissionais da saúde trabalham incansavelmente. Os pacientes não param de chegar: “O hospital está sobrecarregado, estamos a tratar pacientes em todos os cantos do prédio”, explica Badri Chapagain, médico do estabelecimento.
Os familiares dos doentes lutam para encontrar remédios e camas nas unidades de cuidados intensivos:
“Não consigo explicar como foi difícil. Encontramos um leito e agora estamos a procurar remdesivir (um antiviral). Estamos exaustos”, conta Tanka Nath Pandey, que passou dois dias à procura de uma cama hospitalar para o seu cunhado em Katmandu.
A demanda por camas em unidades de cuidados intensivos e por botijas de oxigénio aumenta de dia para dia e é cada vez mais difícil encontrá-los, garante Surya Raj Pandey, co-fundadora de um grupo de voluntários – Covid Connect Nepal – criado para ajudar os enfermos.
O Nepal suspendeu esta semana a maioria de suas ligações aéreas e impôs confinamentos ou restrições a 80 por cento das suas regiões numa tentativa de conter a onda de infecções.
A pandemia atingiu fortemente o sector do turismo do país em 2020 e, este ano, o vírus causa estragos até mesmo no Evereste, onde a temporada de alpinismo – que se anunciava promissora com um recorde de mais de 400 licenças de subida – está ameaçada.
O primeiro-ministro Khadga Prasad Sharma Oli, criticado pela gestão da crise, pediu esta semana à comunidade internacional ajuda na obtenção de vacinas e equipamentos médicos.
A campanha de vacinação arrancou em Janeiro, mas o país recebeu apenas metade das doses encomendadas da Índia. Actualmente, apenas 2,4 milhões de doses foram administradas e poucas pessoas receberam as duas necessárias.
No início de Abril, apesar do aumento das infecções na Índia, festivais religiosos, comícios e actividdes políticas e casamentos continuaram a ser organizados no Nepal.
Muitos nepaleses também viajaram para a grande peregrinação hindu de Kumbh Mela na Índia, que teve um influxo de 25 milhões de pessoas entre Janeiro e Abril.
Entre os peregrinos estavam o antigo rei do Nepal, derrubado em 2008 com a abolição da monarquia, Gyanendra Bir Bikram Shah, e a sua esposa. Ambos testaram positivo e foram hospitalizados.
Na semana passada, o Nepal proibiu o trânsito por Katmandu dos indianos, que se aglomeraram para fazer voos após as restrições impostas no seu país.
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