O governo chinês reúne-se a partir desta sexta-feira para a reunião plenária da Assembleia Nacional Popular, numa sessão que pode fortalecer ainda mais o controle de Pequim sobre a vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong. O chefe do Executivo, Ho Iat Seng, ruma à capital chinesa a partir desta quinta-feira para assistir à abertura do principal encontro político anual da China comunista.
Ho Iat Seng desloca-se a Pequim na companhia da sua chefe de gabinente, Ho Kai Fong. Entre quinta-feira e domingo, André Cheong, assume a título interino as funções de chefe do Executivo.
Os quase 3.000 deputados com assento na Assembleia Popular Nacional (ANP), vão ratificar como se fossem uma só pessoa as decisões do Partido Comunista Chinês (PCC), no salão nobre do Palácio do Povo. em Pequim.
Com bandeiras vermelhas gigantes como pano de fundo, o mais importante evento político anual da hierarquia chinesa constitui ainda uma ocasião para afirmar ainda mais a influência do presidente Xi Jinping, que está à frente dos destinos do país há oito anos.
A sessão solene da Assembleia de 2020, atrasada pela primeira vez em 40 anos por causa da pandemia, serviu para que Xi proclamasse a vitória sobre a Covid-19.
A China, onde o coronavírus surgiu no final de 2019, conseguiu controlar amplamente a pandemia, que se espalhou pelo globo, onde continua a matar diariamente centenas de pessoas
Na tentativa de conter as dúvidas sobre a sua responsabilidade, Pequim processou uma jornalista local que tinha feito a cobertura da quarentena em Wuhan, cidade-berço da pandemia). Apesar da pandemia estar a recuar, a sessão parlamentar ocorre sob sérias restrições sanitárias e com presença limitada de jornalistas.
Hong Kong no centro de todas as atenções
Os deputados de Hong Kong foram todos vacinados contra a Covid-19, noticiou a imprensa esta quarta-feira. A cidade esteve no centro de todas as atenções no encontro no ano passado, com a ratificação da polémica Lei de Segurança Nacional que sufocou a dissidência na antiga colónia britânica.
A Região Administrativa Especial provavelmente vai voltar a estar em destaque nesta edição, com uma reforma do sistema eleitoral que visa enfraquecer a autoridade dos responsáveis políticos distritais.
Numa votação realizada no final de 2019, quando Hong Kong enfrentava intensos protestos pró-democracia, muitas cadeiras locais foram conquistadas por adversários do governo pró-Pequim.
Esses políticos representam actualmente o último contra-poder em Hong Kong e o regime chinês poderá tentar excluí-los do processo de nomeação da Assembleia Legislativa local, já controlada pela China.
Um alto funcionário chinês deixou recentemente claro que Pequim quer garantir que apenas “patriotas” possam ser eleitos em Hong Kong, ou seja, partidários do regime comunista. A mesma mensagem foi veiculada posteriormente em relação a Macau. A imprensa chinesa diz que o objetivo é preencher as “lacunas” do sistema eleitoral.
As próximas eleições legislativas em Hong Kong, que regressou à soberania chinesa em 1997, estão marcadas para Setembro: “Se a ANP adoptar medidas para reformar o sistema eleitoral de Hong Kong, Pequim chegará ainda mais perto do seu sonho: o controlo absoluto” da metrópole financeira, sublinha a cientista política Diana Fu, da Universidade de Toronto.
Opositores de Pequim argumentam que o regime de Xi Jinping continua a atropelar o princípio “Um País, Dois Sistemas”, que deveria garantir a autonomia do território até 2047.
Como todos os anos, a sessão será aberta na sexta-feira com um discurso do primeiro-ministro Li Keqiang, que nesta ocasião costuma revelar as metas de crescimento económico para o ano em questão. No entanto, em 2020 isso não ocorreu devido às incertezas levantadas pela pandemia.
Vários especialistas esperam que não se divulguem dados específicos, nem para 2021 nem para o plano quinquenal 2021-2025, que deve ser aprovado durante o encontro.
A sessão “será particularmente importante porque acontecerá sob tensão excepcional: a pandemia e a complexa relação com os Estados Unidos”, explica o especialista Yuen Yuen Ang, da Universidade de Michigan.
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