Xinjiang. China recorre a programas de computador para identificar comportamentos suspeitos

As autoridades da região chinesa de Xinjiang terão detido muçulmanos que foram “seleccionados” por um programa de computador que identifica comportamentos suspeitos, denuncia esta quarta-feira a organização não governamental Human Rights Watch (HRW).

A HRW, que tem sede nos Estados Unidos da América, afirma que encontrou uma lista de 2.000 detidos entre 2016 e 2018 na região de Aksu, uma prefeitura que é esporadicamente cenário de tensão entre a maioria uigur –  etnia muçulmana de língua turca –  e a minoria han.

De acordo com a organização não governamental, os detidos entraram na mira das autoridades depois de terem sido indiciados  por um pograma de computador baptizado com o nome de “Plataforma Integrada de Operações Conjuntas”, que analisa os dados recolhidos pelo enorme dispositivo de vigilância electrónica montado pelas autoridades chinesas em Xinjiang.

A Human Rights Watch deduz que a grande maioria das pessoas foi denunciada por comportamentos perfeitamente legais, como receber ligações telefónicas oriundas do estrangeiro, não ter um endereço fixo ou desligar frequentemente o telefone móvel.

Dez por cento das pessoas que aparecem na lista não aparecem ligadas a acusações de “terrorismo” ou de “extremismo” que o regime chinês utiliza para justificar a repressão em Xinjiang, de acordo com a HRW.

A lista, a que a AFP teve parcialmente acesso, menciona vários casos em que a pessoa foi simplesmente “sinalizada” pelo programa de computador. A polícia terá enviado os suspeitos para campos de reeducação política, de acordo com a Human Rights Watch.

De acordo com analistas estrangeiros, pelo menos um milhão de uigures foram detidos recentemente nestes campos. Pequim nega o número e afirma que os locais são centros de formação profissional destinados a afastar as pessoas da tentação do islamismo, do terrorismo e do separatismo, após uma série de atentados atribuídos aos uigures.

Várias empresas chinesas foram acusadas de criar programas de reconhecimento facial concebidas especificamente com o propósito de detectar pessoas de aspecto uigur.

A lista de Aksu “é uma nova prova de que a China recorre à tecnologia para reprimir a população muçulmana”, acusa a ONG. As autoridades de Aksu e de Xinjiang não responderam às perguntas da AFP sobre o relatório libertado pela Human Rights Watch.

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