A polícia da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong disparou este domingo canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar milhares de pessoas que, desafiando as restrições impostas para conter o coronavírus, se reuniram para protestar contra o plano de Pequim de impor directamente a lei de segurança do Estado no território.
O protesto pautou o regresso dos tumultos que assolaram a antiga colónia britânica durante grande parte do ano passado, com milhares de pessoas e lotarem a movimentada área comercial de Causeway Bay, onde cantos de “independência para Hong Kong, é a única saída” e outros chavões ecoavam pelas ruas.
Para os líderes do Partido Comunista Chinês, os apelos à independência de Hong Kong são um anátema e a proposta apresentada na sexta-feira, de impôr a lei de segurança nacional enfatiza a intenção de Pequim “de impedir e punir” actos da índole.
Ao final da tarde deste domingo, surgiram alguns momentos de impasse entre a polícia e os manifestantes na zona de Wan Chai, nas imediações do centro financeiro da antiga colónia britânica.
O anúncio de Pequim também causou calafrio nos mercados financeiros e foi repreendido por vários governos estrangeiros, organizações de defesa dos direitos humanos e ainda alguns grupos de pressão de natureza financeira e comercial,
“Estou preocupado que, depois da implementação da lei de segurança nacional, as autoridades persigam os que foram acusados anteriormente e a polícia deixe de estar sujeita a qualquer tipo de controlo”, disse Twinnie, 16, estudante do ensino secundário que se recusou a avançar com o seu apelido.
“Eu tenho medo de ser detido, mas sinto que devo sair à rua e lutar pelo futuro de Hong Kong.”
As manifestações ocorrem numa altura em que cresce a preocupação em relação ao futuro do princípio “Um País, Dois sistemas”, ao abrigo do qual Hong Kong é governado desde o regresso da antiga colónia britânica à soberania chinesa em 1997. O acordo garante à cidade amplas liberdades, inexistentes no Continente, incluindo uma imprensa livre e um sistema judicial independente.
A manifestação deste domingo, a maior desde o início das estratégias de confinamento associadas à Covid-19, foi inicialmente organizada contra um projecto de lei avançado pelas autoridades locais que previa a extradição de suspeitos para a República Popular da China, mas a proposta de lei relativa à lei da Segurança do Estado suscitou apelos a que mais pessoas saiam à rua.
Enquanto o governo da vizinha Região Administrativa Especial procurava neste domingo oferecer garantias sobre as novas leis, a polícia conduzia operações de busca em Causeway Bay e avisou as pessoas para não deviam violar as indicações legais que proíbem ajuntamentos de mais de oito pessoas.
As restrições impostas para conter a propagação do coronavírus mantiveram os manifestantes em grande medida fora das ruas durante os últimos meses.
Os manifestantes fizeram bloqueios nas estradas e atiraram guarda-chuvas, garrafas de água e outros objectos, disse a polícia, acrescentando que as forças de segurança responderam com gás lacrimogéneo “para travar actos violentos” e fizeram mais de 120 detenções. Muitas lojas e outros negócios fecharam mais cedo
As cenas caóticas trouxeram à memória os protestos anti-governamentais por vezes violentos que paralisaram Hong Kong ao longo do ano passado e que colocaram na rua, de uma assentada, cerca de dois milhões de pessoas, naquele que foi o maior protesto algumas vez organizado na vizinha Região Administrativa Especial
Num ousado desafio às autoridades da República Popular da China, um pequeno grupo de activistas pró-democracia protestou do lado de fora do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEHK, cantando “A lei de segurança nacional está a destruir o segundo sistema”.
“No futuro, vão poder prender e silenciar quem quiserem em nome da segurança nacional. Temos que resistir a essa possibilidade”, disse à agência Reuters activista Avery Ng, da Liga dos Social-Democratas.
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