A subnutrição afecta atualmente entre 40 a 50 por cento da população do sul da Ásia, nomeadamente na Índia, comprometendo em particular o crescimento das crianças com menos de 5 anos, indicou na terça-feira um estudo internacional.
De acordo com as conclusões do estudo anual Global Nutrition Report, no sul da Ásia, e no caso específico do estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, a taxa de crescimento nas crianças com menos de 5 anos verifica um decréscimo na ordem dos 40 por cento.
O relatório esta terça-feira publicado, elaborado por um grupo de peritos independentes internacionais, incide na “desigualdade nutricional” e analisa como o acesso limitado a certos alimentos e a cuidados médicos afecta as pessoas com menos recursos: “Vários factores culturais e económicos mantêm o sul da Ásia como a região mais afectada em termos de subnutrição, atrasos no crescimento e debilidade corporal”, afirmou, em declarações à agência espanhola EFE, o coautor do estudo, Venkatesh Manar.
A prevalência de uma nutrição má e deficiente na população desta região situa-se entre os 40 por cento e os 50 por cento e a debilidade (fraqueza) corporal devido a uma dieta inadequada afecta cerca de 20 por cento da população, com especial incidência na Índia.
Segundo o especialista, as carências nutricionais surgem face à dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e a cuidados médicos por parte dos mais pobres, flagelo (pobreza) que num país como a Índia afecta quase dois terços de uma população com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes.
Um dos principais problemas, de acordo com o mesmo especialista, é “a própria dieta” dos países desta região (que também integra Estados como o Bangladesh ou o Paquistão), muito feita à base de grãos ricos em amido, como o arroz, enquanto “a proporção de alimentos como vegetais, proteína animal ou a prática de refeições intercalares é muito limitada”.
O documento assinala que os produtos lácteos, em especial o leite, são os únicos alimentos acessíveis para as pessoas de menor rendimento que vivem nesta região.
A estes juntam-se, para o caso particular da Índia, a carne vermelha crua.
Já do lado dos alimentos que são praticamente inacessíveis para a população mais pobre estão, por exemplo, os ovos, as carnes brancas e o peixe.
Perante tal cenário, o relatório recomenda que os governos apliquem “políticas e instrumentos fiscais” para que esta faixa da população tenha acesso a uma dieta mais variada.
O documento também alerta para o fenómeno da obesidade, indicando que nenhum país do mundo está a tomar medidas efectivas para travar o aumento do excesso de peso e da obesidade em adultos até 2025, meta traçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a prevenção de doenças não transmissíveis.
Segundo os especialistas envolvidos no Global Nutrition Report, uma em cada nove pessoas no mundo passa fome ou está subnutrida, enquanto um terço da população está com excesso de peso ou sofre de obesidade
Para Venkatesh Manar, os governos devem aplicar políticas de saúde não apenas destinadas ao combate da subnutrição e aos problemas consequentes, mas também políticas focadas na crescente incidência do excesso de peso e da obesidade nas populações: “Não podemos dizer que ter excesso de peso e ser obeso são apenas um problema das pessoas mais ricas ou com maiores rendimentos. Muitos membros da população de classe média e baixa têm atualmente acesso a alimentos processados e ultraprocessados com alto teor de açúcar e de gordura”, referiu.
No sul da Ásia, “os níveis de excesso de peso e de obesidade ainda são baixos comparados aos países ocidentais, mas definitivamente irá ser um problema”, prosseguiu.
O especialista insistiu ainda na necessidade de os governos desta região “investirem mais numa nutrição saudável”, para que em eventuais situações futuras, como a atual pandemia do novo coronavírus, “a resistência das populações não seja ainda mais baixa”.
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