Araponga-da-amazónia, o pássaro com a potência vocal de um bate-estacas (c/vídeo)

Nos confins da Amazónia, um pássaro de plumagem branca, do tamanho de um pombo, vira a cabeça para uma fêmea e tenta impressioná-la com um grito ensurdecedor, similar ao barulho de uma buzina. O estridente canto alcança em decibéis níveis similares aos de um bate-estacas.

Trata-se da araponga-da-amazónia (Procnias albus), que acaba de destronar o seu vizinho de habitat, o cri-crió (Lipaugus vociferans), como a ave mais barulhenta do mundo, de acordo com um artigo publicado esta segunda-feira (21) na revista Current Biology.

Os biólogos Jeff Podos, da Universidade de Massachusetts Amherst, e Mario Cohn-Haft, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia (Inpa), escrevem no artigo que as investidas da espécie são tão altas que é impossível que as fêmeas não fiquem com o aparelho auditivo danificado quando a chamada é emitida a curta distância.

A façanha é ainda mais impressionante se forem tidas em conta as dimensões da ave. A Araponga tem o tamanho de um pombo e pesa aproximadamente 250 gramas.

Além do canto, os machos diferenciam-se das fêmeas pela carne escura com pontos brancos que pende de seu bico. As fêmeas têm uma plumagem verde com manchas escuras e não apresentam protuberâncias no bico. Podos explicou à AFP que teve a sorte de presenciar fêmeas a juntarem-se aos machos, enquanto os animais cantavam: “O macho canta a primeira nota com a face virada, e depois faz uma viragem dramático e quase teatral, cantando com as patas bem abertas e e agitando o apêndice ao redor do bico”, disse. “E então, ele emite a segunda nota no local onde a fêmea estaria”.

Os investigadores não conseguiram perceber porque razão as fêmeas se expõem voluntariamente tão de perto a um som tão estridente que atinge níveis máximos de 113 decibéis, muito acima do limite da dor para o ser humano. O som produzido pela araponga é equivalente a um espectáculo de rock ruidoso ou a um avião com turboélice quando atinge a potência  necessária para a descolagem: “Talvez estejam a tentar avaliar os machos de perto, mesmo correndo o risco de sofrer algum dano no seu sistema auditivo”, acrescentou Podos.

Os investigadores usaram gravadores de alta resolução e vídeos em alta velocidade para retardar a açcão o suficiente para estudar como este pássaro recorre à sua anatomia para alcançar níveis de ruído tão altos: “Não sabemos como é que animais tão pequenos conseguem ser tão barulhentos. Estamos a dar os primeiros passos com o propósito de entender esta biodiversidade”, disse.

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