Icebergs. Há um novo gigante à deriva

Fotografia: Danting Zhu/Unsplash

O maior iceberg do mundo se desprendeu da plataforma de gelo de Ronne, na Antárctica, de acordo com imagens de um satélite do programa europeu Copernicus – anunciou a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

O iceberg A-76, de quase 170 quilómetros de comprimento por 25 quilómetros de largura e uma superfície total de 4.320 quilómetros quadrados, está à deriva no Mar de Weddell, de acordo com um comunicado divulgado pela agência na quarta-feira à noite.

Foi observado inicialmente pelo British Antarctic Survey (BAS), organismo de investigação britânico para as zonas polares que tem uma base próxima do local.

Até então, o maior iceberg do mundo era o A-23A, com superfície de 3.380 quilómetros quadrados, que se encontra também à deriva no Mar de Weddell, de acordo com dados da Agência Espacial Europeia.

As imagens do imenso bloco de gelo A-76 foram registadas pelo satélite Sentinel-1, que integra o programa europeu de observação Copernicus. O Centro Nacional de Gelo dos Estados Unidos afirmou que o iceberg A-76 iniciou a separação da plataforma de Ronne a 13 de Maio.

A estação polar britânica localizada na plataforma de gelo de Brunt, também no Mar de Weddell, foi testemunha, em fevereiro passado, da ruptura de um iceberg de 1.270 quilómetros quadrados.

Em Novembro de 2020, outro iceberg gigante, que era o maior do mundo quando se desprendeu em 2017, aproximou-se perigosamente de uma ilha do Atlântico Sul, ameaçando colónias de pinguins e focas.

Este iceberg, o A-68, separou-se de uma gigantesca plataforma de gelo, chamada Larsen C, e privou-a de 12 por cento da sua superfície, o que a tornou mais instável. Outras partes desta barreira, situada na ponta da península antártica, desintegraram-se em 1995 e em 2002.

A temperatura do planeta aumentou mais de 1ºC desde a era pré-industrial, devido às emissões de gases causadores do efeito estufa, provocadas pelas actividades humanas. A Antárctica registou, no entanto, um aumento de temperatura duas vezes superior.

A formação de icebergs, blocos de gelo de água doce resultantes da fragmentação de um glaciar continental que atingiu a costa, é um processo natural para o qual contribuem o aquecimento do ar e dos oceanos, porém, está a a acelerar, de acordo com os cientistas.

No entanto, A-76 e A-74, outro iceberg gigante de 1.270 km2 que se separou da plataforma de gelo de Brunt em Fevereiro, “são parte do ciclo natural das barreiras de gelo”, comentou no Twitter Laura Gerrish, do British Antarctic Survey (BAS), a organização de investigação britânica que primeiro avistou o A-76. “É importante monitorizar a frequência com que os icebergs se despreendem, mas por enquanto estas rupturas já eram esperadas”, acrescentou a especialista.

Apesar de tudo, o impacto do aquecimento global é perceptível nesta parte do mundo.

Num estudo publicado na quarta-feira na revista Geology, os investigadores analisaram a Barreira de Larsen, a maior da Península Antártica, que se manteve estável por 10.000 anos, mas sofreu uma série de colapsos nos últimos 25 anos, com destaque para a desintegração em 2002 da barreira Larsen B: “A desintegração regular das barreiras de gelo na costa leste da Península Antárctica está ligada ao aquecimento da atmosfera em direcção ao sul nos últimos 50 anos”, comentou o BAS, que participou do estudo, num comunicado. “Ao mesmo tempo, as correntes oceânicas quentes aumentaram, enfraquecendo as barreiras de gelo por baixo”, acrescentou.

A camada de gelo da Antárctica, que representa o equivalente a 55 metros de elevação do nível do mar, perde 150 milhões de toneladas de gelo a cada ano.

A hipótese de seu derretimento é um dos “pontos de ruptura” ou “ponto de inflexão” identificados pelos cientistas como elementos-chave cuja modificação substancial pode levar o sistema climático a uma mudança dramática e irremediável.

Os icebergs são tradicionalmente baptizados com uma letra que corresponde à zona da Antártica em que foram detectados pela primeira vez, seguidos por um número.

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.