Os restos fossilizados de uma extravagante espécie de canguru que desapareceu há cerca de 50.000 anos revelaram as surpreendentes habilidades do animal para subir às árvores, numa região da Austrália que era então uma planície e que hoje está transformada em savana.
A descoberta, que foi anunciada na quarta-feira na Royal Society Open Science, foi feita a partir de uma nova análise de fósseis de uma pequena espécie de canguru, há muito extinta. Os fósseis foram encontrados na imensa planície árida de Nullarbor – “nenhuma árvore” em latim – no sudoeste da Austrália.
Os paleontólogos trabalharam em dois esqueletos quase completos de um macho e de uma fêmea, classificados erroneamente como “Wallabia kitcheneri“, e voltaram a classificá-los no subgénero novamente denominado “Congruus kitcheneri“, uma espécie há muito desaparecida.
Ao estudar a sua morfologia – fortes membros anteriores e posteriores, mãos robustas com garras -, deduziram que o marsupial, que pesava cerca de 40 quilogramas, estaria capacitado para subir às árvores e deslocar-se lentamente entre elas.
Trata-se de uma excêntrica curiosidade biológica, uma vez que o ‘Congruus kitcheneri‘ não era um canguru arborícola, como o dendrolagus, primo distante dos marsupiais que actualmente povoam as florestas da Nova Guiné.
Sessenta espécies sobreviventes de cangurus, wallabies e outros marsupiais da família dos macrópodes evoluíram, ao darem o salto para terra firme: “Lembro-me de ter observado os ossos das mãos e dos pés, com garras grandes e retorcidas e de ter dito ao meu colega: ‘talvez não acredites em mim, mas acho que o animal estava capacitado para pular de árvore para árvore'”, disse Natalie Warburton, investigadora do centro de investigação sobre os ecossistemas da Universidade Murdoch em Perth.
O que levou o animal a desenvolver tais capacidades ainda é um mistério. “Pular de árvore para árvore é algo que exige muita energia e músculos poderosos para subir”, disse a investigadora, nas declarações que prestou à AFP.
Warburton acrescentou que “devia garantir bons recursos alimentares nas árvores para que o esforço valesse a pena”.
A descoberta, segundo ela, “diz-nos também que o hábitat e o meio ambiente na região há 50.000 ou 100.000 anos eram muito diferentes do que são agora”, uma planície com clima quase desértico.
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