Menos nascimentos em ano de pandemia: porque será ?

Fotografia: Alexandra Ferreira/O Clarim

Ao longo dos últimos vinte anos, temos vindo a verificar uma redução significativa no número de nascimentos em Portugal.  Passámos de 120 mil nados vivos por ano para 80 mil. Ou seja, de 10 mil recém nascidos por mês para 6666. Uma queda vertiginosa para um país como Portugal, com um futuro preocupante face ao envelhecimento progressivo da sua população.

Jorge Sales Marques/Pediatra

Os incentivos para aumentar a natalidade promovidos pelos sucessivos governos do bloco central, têm sido insuficientes. 

Com o aparecimento da pandemia, muitas medidas sanitárias foram tomadas. O confinamento domiciliar foi uma delas. Os casais passaram a estar mais tempo juntos em casa. O tal tempo que todos reclamavam quer por excesso de trabalho, quer por desencontros de diversa natureza, poderia tornar-se finalmente uma realidade com o confinamento. Mas, ao contrário daquilo que a maioria das pessoas julgavam que poderia acontecer – com um eventual baby-boom no ano seguinte – a natalidade continua em curva descendente. Porque será ? 

As relações humanas não são fáceis. Basta ver o que acontece nos “reality shows”, onde os concorrentes chegam felizes, são inicialmente simpáticos uns com os outros e, pouco a pouco, tudo se inverte e o espaço onde estão confinados passa de paraíso a inferno num abrir e fechar de olhos. São raras as pessoas que ainda conseguem conviver com alguém  sem discutir ou berrar.

Num casal, por mais anos partilhados que possam ter na sua vida em comum, quando este tempo se prolonga em demasia no dia-a-dia, os momentos de discussão, falta de entendimento e paciência acontecem de uma forma quase normal. Se associarmos a este cenário a outras condicionantes, tais como a presença constante de um ou mais filhos, que habitualmente estão em espaços abertos, mas que pela força das circunstâncias ficaram presos dentro de quatro paredes devido ao confinamento, maior será a possibilidade de criar stress entre o casal e o arrefecimento progressivo da sua relação será inevitável. A própria depressão causada pelo espaço limitado, aliada ao possível desemprego de um deles ou de ambos, irá contribuir para o mal estar já existente.

O desgaste diário físico e emocional, leva a discussões fúteis e consequentemente a ausência de momentos de intimidade e de amor . 

A explosão de nascimentos que deveria surgir com o confinamento, não só não aconteceu como o país manteve a tendência dos últimos anos: a diminuição de número de nascimentos no nosso país . 

Ainda não foi desta vez que a natalidade aumentou em Portugal. A política de apoio e incentivos ao casal terá de ser revista para finalmente podermos inverter esta  triste realidade. Não lhes basta pedir para terem mais filhos . É preciso criar condições para que os portugueses os possam ter.

1 Comment

  1. O problema é que é preciso mudar mentalidade laboral! Não chega dar dinheiro, os pais também querem tempo com os filhos, a mentalidade de ser ter de trabalhar mais horas que o contratado é terrível, haver mais pressão nas mães que nos pais (ainda acontece maioritariamente serem elas que ficam em casa quando os miúdos estão doentes), etc…

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