Amnistia Internacional denuncia massacre de civis na Etiópia

A Amnistia Internacional (AI) denunciou esta quinta-feira a morte de um número ainda indeterminado de civis durante um massacre realizado, de acordo com testemunhas, por uma guerrilha na região etíope dissidente do Tigré, onde uma operação do Exército obrigou mais de 11 mil pessoas a se refugiarem no vizinho Sudão.

“A AI pode confirmar que várias pessoas, provavelmente centenas, foram esfaqueadas ou assassinadas a golpes de machete na cidade de Mai Kadra, sudoeste da região etíope do Tigré, na noite de 9 de Novembro”, informou a Amnistia num comunicado.

A organização garantiu que “verificou digitalmente fotos horripilantes e vídeos de corpos espalhados pelas ruas da cidade ou a ser transportados em macas”, e assinalou que não dispõe de informação suficiente para identificar os autores do massacre, mas conversou com testemunhas que o atribuíram à guerrilha Frente de Libertação dos Povos do Tigré (TPLF).

Se for confirmado oficialmente, este massacre de civis será o primeiro registado nesta região do norte, onde há uma semana tropas do governo central enfrentam a TPLF.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed,  que venceu o Nobel da Paz de 2019, afirma que a operação militar procura substituir a TPLF por “instituições legítimas” e acusa o governo da região rebelde de ter atacado duas bases do Exército, informação que é negada pela guerrilha.

 Doações de sangue

Ahmed afirmou na quinta-feira no Facebook que as Forças Armadas tinham “libertado” a zona ocidental do Tigré, uma das seis zonas administrativas dessa região, além da capital, Mekele (no leste), e outra localidade próxima.

Embora seja difícil estabelecer um balanço das vítimas do conflito, o Exército etíope disse ter realizado ataques aéreos contra posições da guerrilha, como “depósitos de armas e combustível”.

A televisão oficial do Tigré, ligada à guerrilha, afirmou que 10 mil soldados do Exército etíope foram capturados e que os dissidentes tomaram o controle de cidades antes controladas pelo poder estatal.

As autoridades tentam conquistar o apoio da população na sua operação militar na região dissidente e organizaram na quinta-feira uma campanha de doação de sangue em Adis Abeba. O governo também anunciou a detenção, na capital, de 150 pessoas de “diversas etnias suspeitas de preparar actos terroristas sob ordens da TPLF”.

Cerca de 240 pessoas foram presas nos últimos dias, acusadas de conspirar contra as autoridades, declarou Getu Argaw, chefe de polícia na capital federal, em declaração à rede de TV pública EBC.

Onze mil refugiados

A TPLF, que governou o país por 30 anos, acusa o Executivo de Abiy de a marginalizar na tomada de decisões e está há meses a desafiar o seu poder. Em Setembro, organizou uma votação no Tigré que o governo central classificou de “ilegítima”.

A violência na região provocou um êxodo de habitantes para o vizinho Sudão, cuja fronteira teria sido cruzada por cerca de 11.000 pessoas, de acordo com a agência sudanesa encarregada dos refugiados.

O Sudão anunciou a intenção de acolher milhares de etíopes que fogem da violência. De acordo com um fotógrafo da AFP na região de Hamdait, na fronteira com a Etiópia, os refugiados – a maioria mulheres, jovens e crianças – chegam de bicicleta, riquexó ou a caminhar e parecem exaustos. Centenas de pessoas aguardavam no lado etíope da fronteira para tentar atravessar o rio que separa os dois países.

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