Hong Kong mobiliza-se para expressar apoio a Jimmy Lai

Os cidadãos da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong saíram esta terça-feira à rua em peso para comprar exemplares do Apple Daily, no que foi visto como um símbolo do apoio da população ao jornal pró-democracia, depois de o dono da publicação, o empresário Jimmy Lai, ter sido detido na véspera ao abrigo da polémica lei de segurança nacional.

Os sinais do que muitos consideram uma forte repressão dos direitos cívicos e políticos intensificaram-se desde que Pequim promulgou o diploma, em resposta a meses de protestos sem precedentes em 2019.

Lai, magnata da imprensa, está entre as 10 pessoas detidas na segunda-feira, numa grande operação contra o movimento pró-democracia. Quase duas centenas de agentes participaram numa operação de busca e apreensão na redacção do Apple Daily, um jornal abertamente crítico do regime de Pequim.

Mas  numa nova demonstração da popularidade da oposição na  antiga colónia britânica, os moradores dirigiram-se em peso às bancas dos jornais esta terça-feira para comprar o Apple Daily, que tinha antecipado a procura e preparou uma tiragem excepcional de 550.000 exemplares, contra os 70.000 habituais.

O dono de um restaurante do popular bairro de Mongkok adquiriu 50 cópias e explicou que planeava distribuí-las gratuitamente entre os clientes: “Como o governo não quer que o Apple Daily sobreviva, nós, cidadãos de Hong Kong, devemos salvá-lo”, afirmou o homem, que se apresentou com o nome de Ng.

Resistir é a palavra de ordem

Preocupados com a nova lei de segurança, cada vez menos pessoas aceitam falar com a imprensa e revelar a sua identidade: “Lutaremos”, afirma na primeira página a edição de terça-feira do Apple Daily, uma promessa escrita a vermelho sobre uma foto de Jimmy Lai a ser levado por agentes da polícia, nas instalações do jornal.

Outra demonstração de solidariedade a Lai foi a subida de quase 800 por cento das acções do seu grupo de imprensa, o Next Digital, depois da sua detenção.

As detenções e a perseguição foram condenadas como ataques “sem precedentes” à liberdade de imprensa em Hong Kong, acções inimagináveis há alguns meses: “A polícia agora combate abertamente a liberdade de imprensa. Estou enfurecida”, declarou em Mong Kok uma mulher que se apresentou como Chan e que comprou 16 exemplares do jornal.

Considerada uma resposta de Pequim a meses de manifestações pró-democracia em Hong Kong no ano passado, a lei da segurança nacional promulgada em 30 de Junho concede às autoridades locais novos poderes para reprimir quatro tipos de crimes contra a segurança do Estado: subversão, separatismo, terrorismo e conluio com as forças estrangeiras.

Muitos activistas consideram que o texto compromete as liberdades civis e políticas de que a  região vizinha devia beneficiar e acaba com o princípio “Um País, Dois Sistemas”, pedra basilar das negociações que conduziram à transferência de soberania, em 1997. O princípio deveria garantir a Hong Kong liberdades desconhecidas na China continental até 2047.

Os activistas pró-democracia também estão preocupados com a possibilidade de Pequim utilizar leis similares para silenciar os protestos  noutras partes do seu território.

Vários dirigentes estrangeiros expressaram preocupação, incluindo o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, que se reuniu com Lai no ano passado e considerou a detenção do magnata “mais uma prova de que o Partido Comunista Chinês destruiu as liberdades de Hong Kong e os direitos do seu povo”.

Lai foi detido por acusações de conivência com forças estrangeiras e fraude. Dois filhos do empresário também foram detidos, assim como a jovem militante democrática Agnes Chow e Wilson Li, um ex-activista que se apresenta como jornalista independente para a emissora britânica ITV News.

Pequim celebrou a detenção do empresário de 71 anos, apresentado como um “agitador anti-chinês” que conspirou com os estrangeiros para “provocar o caos”.

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