O Demosisto, uma das mais dinâmicas forças políticas pró-democracia da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong, anunciou esta terça-feira a sua dissolução, horas depois dos principais dirigentes terem anunciado a decisão de abandonar o partido. Ambos os anúncios foram feitos na sequência da aprovação, por parte da Assembleia Nacional Popular, da Lei da Segurança Nacional que Pequim se propõe impor no território vizinho.
“Após deliberações internas decidimos dissolver (o partido) e cessar toda a actividade devido às circunstâncias”, comunicou a força política através de uma mensagem divulgada através da rede social Twitter.
O anúncio materializa-se poucas horas depois de quatro dos principais dirigentes do partido – Joshua Wong, Nathan Law, Jeffrey Ngo e Agnes Chow – terem anunciado que se demitiam do Demosisto.
O partido foi fundado por líderes estudantis em 2014, na sequência dos protestos do movimento “Occupy Central”, uma paralisação que se prolongou por três meses contra a interferência de Pequim no sistema político e social do território vizinho.
Ao longo dos últimos cinco anos, o partido destacou-se pela defesa de um sistema eleitoral universal no território vizinho, uma proposta rejeitada pelo Governo Central.
Militantes como Joshua Wong – que chegou a ser detido devido às actividades políticas desenvolvidas – são atacados frequentemente pela imprensa da República Popular da China, que os acusa de fomentarem o separatismo, apesar do Demosisto nunca ter incluído a questão da independência na agenda do partido.
O Governo chinês acusou o partido agora dissolvido de receber apoio de “potências estrangeiras” e de personalidades políticas internacionais, nomeadamente dos Estados Unidos da América: “Eu vou continuar a defender a minha casa – Hong Kong – até que eles me reduzam ao silêncio e me eliminem da face da terra”, escreveu Joshua Wong na página que mantém na rede social Facebook. “Um destino fatídico é-nos apresentado, as dificuldades pessoais são imprevisíveis e temos de as enfrentar com coragem. Anuncio a minha renúncia como secretário-geral do Demosisto e a minha partida do Demosisto. Realizarei o meu protesto a título pessoal”, afirmou nas redes sociais Joshua Wong, prognosticando a chehada de um “reinado de terror”.
Horas antes da dissolução do partido textos semelhantes a anunciar o abandono do partido foram publicadas também por Nathan Law e Agnes Chow.
Wong também defendeu que “nem a lei de segurança nacional nem qualquer outra lei do mal vai congelar a vontade de Hong Kong”. O jovem activista considera que os protestos massivos pró-democracia lançados há um ano contra o projecto de lei da extradição “despertou inúmeras pessoas”.
Law defende que “as personalidades políticas estarão em maior perigo e é difícil prever a sua segurança”, embora tenha afirmado que “a luta do povo de Hong Kong não cessará e continuará com resistência constante”.
As autoridades chinesas confirmaram esta terça-feira que aprovaram a Lei de Segurança Nacional que vai permitir ao Governo do território vizinho combater actividade considerada “subversiva e secessionista” em Hong Kong. O diploma suscita receios acrescidos sobre as restrições às liberdades na vizinha Região Administrativa Especial.
Tam Yiu-Chung, o único representante de Hong Kong no Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo da China, confirmou que o diploma foi aprovada. Tam não avançou mais detalhes sobre o articulado do texto, limitando-se a dizer que a pena de morte não consta da lista das punições por “actos de secessão, subversão, terrorismo e conspiração com forças estrangeiras para comprometer a segurança nacional”. A imprensa de Hong Kong adianta, no entanto, que o diploma prevê penas de prisão perpétua para todos quantos venham a ser acusados à lei da nova legislação.
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