A Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau deve abrir ao tráfego no início do próximo Verão e, mais do que facilitar a ligação entre as duas margens do Delta do Rio das Pérolas, deve impulsionar uma maior integração económica na região. Um texto de Lou Chen para a agência Xinhua.
Yu Lie está envolvido na construção de pontes há mais de três décadas, mas há uma, em particular, que lhe enche o coração de brio e a alma de orgulho: a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
A travessia está a ser ultimada e os detalhes finais aprimorados. A ponte, que será a maior do mundo sobre o leito marítimo, atravessa aquelas que são as águas mais agitadas do Sul da China, dada o número e a intensidade de embarcações que circulam na zona. Uma empreitada complicada em termos tecnológicos, a ligação intersecciona o trajecto de várias das carreiras marítimas que rasgam o delta de Lingding e demorou sete anos a ser construída.
A principal parte da estrutura prolonga-se por 29,6 quilómetros e consiste de uma secção elevada com 22,9 quilómetros e de um túnel, construído abaixo do nível do leito do mar, com 6,7 quilómetros. No total, a estrutura tem uma amplitude de 55 quilómetros.
Na construção da travessia foram utilizadas 420 mil toneladas de aço, o suficiente para construir seis réplicas exactas da Torre Eiffel. Ao metal utilizado acrescem 1,08 milhões de metros cúbicos de cimento.
Arquitectos e engenheiros, como Yu Lie, tiveram que superar alguns dos mais complexos desafios com que alguma vez se depararam para garantir que o projecto chegava a bom porto. O resultado do empenho colocado na construção da obra é uma ponte que consegue resistir a um terramoto de magnitude 8 nas escala de Richter, que deverá escapar incólume a super-tufões e que deverá operar durante 120 anos sem necessitar de obras estruturais de relevo: “Há medida que se aproxima o dia de abertura da Ponte ao público, é natural que as expectativas da população também aumentem, sobretudo no que toca ao impacto que terá sobre as ligações na região e à forma como pode beneficiar quem vive nas duas margens do Delta do Rio das Pérolas”, consente Yu, vice-director do organismo responsável pela construção e gestão da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
O engenheiro está envolvido na construção da travessia desde 2004, ano em que a obra deu os primeiros passos, ainda no conforto dos gabinetes políticos e das salas de planeamento: “A ponte não será apenas uma ligação rodoviária. Será, sobretudo, um meio de ligar as três regiões do ponto de vista social, económico, cultural e turístico”, sublinha o responsável.
A ponte deverá reduzir o tempo de viagem por estrada entre Hong Kong e Zhuhai das actuais três horas para apenas trinta minutos, dando um importante contributo para o reforço da integração das cidades com dão corpo à região económica do Delta do Rio das Pérolas.
São vários os exemplos de infraestruturas que ao longo do tempo chamaram a si um papel catalisador em termos de desenvolvimento. Há quase 135 anos, centenas de pessoas saíram à rua em Nova Iorque para celebrar o lançamento da empreitada de construção da Ponte de Brooklyn, uma estrutura que ajudou a cidade a afirmar-se como o principal centro económico e financeiro do mundo.
Mais de um século depois, e com a República Popular da China na iminência de substituir os Estados Unidos da América como principal potência económica do planeta, os grandes trabalhos de engenharia da idade moderna materializam-se, quase sem excepção, do outro lado da bacia do Pacífico: “O nosso país é muito forte na construção de pontes”, esclarece Yu. A Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau é uma ode às conquistas da China em termos de tecnologia, de equipamento e de investigação e marca um ponto de viragem que abre as portas a uma outra forma de olhar o futuro”, sustenta Yu.
A Travessia do Delta deverá ser também uma peça vital no âmbito das infra-estruturas que deverão ajudar a edificar o projecto da Rota Marítima da Seda do Século XXI, uma das iniciativas com que Pequim se propõe redefinir a economia global.
Zhuhai a trinta minutos

Em 1988, o empresário de Hong Kong Arnold Ho abriu uma fábrica do outro lado do chamado delta de Lingding, em Zhuhai. Trinta anos depois, o grupo que lidera – a Print-Rite Holdings Limited – tornou-se um dos maiores produtores mundiais de material impresso. O empresário viaja com frequência entre Hong Kong, Zhuhai e Macau. Obrigado a viajar de carro, primeiro, e de barco depois, Arnold Ho precisa de várias horas para concluir uma única viagem: “Naquela altura, o número de ferries não era tão elevado. Se eu tivesse urgência em regressar ou o azar de ser surpreendido por um tufão, tinha de efectuar a viagem por terra para regressar a Hong Kong”, disse Ho.
A partir do Verão, a viagem de regresso a casa para o empresário da antiga colónia britânica não deverá exigir mais do que 30 minutos: “Quando a ponte abrir ao público, as oportunidades que trará serão imensas. É óbvio que Zhuhai vai atrair um maior número de investidores. Na qualidade de um dos pioneiros, dos empresários que primeiro investiram em Zhuhai, estão certo que não me faltarão boas oportunidades para desenvolver a minha empresa”, antecipa Arnold Ho.
A ponte está situada numa das zonas mais congestionadas do mundo em termos de navegação. Todos os dias, mais de quatro milhares de embarcações cruzam as águas do Delta de Lingding e é raro o minuto em que um avião não descola ou não aterra no Aeroporto Internacional de Hong Kong. Da mesma forma que a Ponte de Brooklyn impulsionou o crescimento de Nova Iorque, também a Travessia do Delta deve funcionar como trampolim para o crescimento das regiões meridionais da China.
A Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau não só perpassa um obstáculo natural, como também se estende por dois sistemas sociais distintos, o socialismo e o capitalismo. O organismo responsável pela gestão da ponte está a desenvolver soluções que deverão ajudar a aproveitar ao máximo o potencial da maior maravilha da engenharia construída no século XXI.
Su Yi, outro dos vice-directores do organismo, adianta que os Governos das três regiões envolvidas na construção da estrutura ainda estão a discutir os detalhes relativos às autorizações de circulação, às operações dos autocarros turísticos ou à forma como serão geridas as operações de resgate e emergência: “Será um marco também em termos de gestão”, defende Su. “Estamos ansiosamente à espera que abra ao público e que um incessante fluxo de carros dela se apodere”, rematou o responsável.
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