Restos do maior predador da Europa descobertos em Wight

Fotografia: James Qualtrough/Unsplash

Fósseis de um dinossauro carnívoro com 125 milhões de anos, dez metros de comprimento e com a cabeça de um crocodilo – provavelmente o maior predador que alguma vez viveu na Europa – foram descobertos na ilha britânica de Wight, revela um estudo publicado nesta quinta-feira.

A paleontologia deve esta preciosa descoberta a um coleccionador local, o britânico Nick Chase, que passou a vida a percorrer as praias desta ilha do sul da Inglaterra, um dos locais mais ricos da Europa em termos de fósseis de dinossauros.

A partir dos poucos ossos que desenterrou – principalmente vértebras cervicais, caudais e sacrais – os investigadores da Universidade de Southampton conseguiram identificar o animal, um espinossauro bípede. Este predador viveu no Cretáceo inferior, período situado entre os 145 milhões e 100 milhões de anos atrás: “Era um animal gigantesco, com mais de 10 metros de comprimento. Tendo em conta algumas das suas dimensões, provavelmente representa o maior predador alguma vez descoberto na Europa”, afirma Chris Barker, paleontólogo que liderou o estudo publicado na revista Peer J.

Embora poucos ossos tenham sido desenterrados até agora, “os números não mentem: é maior do que o maior espécime alguma vez encontrado na Europa”, disse à AFP.

Este poderoso carnívoro parece ser “ainda maior” do que outro dinossauro predador descoberto em Portugal em 2017, confirmou Thomas Richard Holtz, paleontólogo da Universidade de Maryland, nos EUA, que não esteve envolvido no estudo.

“Como as garças”

Comparar tamanhos continua a ser difícil neste mundo de espécies extintas, lembra Matt Lamanna, especialista em dinossauros do Carnegie Museum of Natural History, situado no estado americano da Pensilvânia.

E o maior dos espinossauros “provavelmente não era tão massivo” como o famoso Tyrannosaurus rex ou o Giganotosaurus.

O “espinossauro de White Rock” (nomeado em homenagem ao local onde os seus ossos foram encontrados) é o nome que os cientistas esperam dar a uma nova espécie, que vagou pela área há cerca de 125 milhões de anos atrás.

Acredita-se que seja o espécime mais jovem da família dos espinossauros encontrados na Grã Bretanha, incluindo o Baryonyx, um dos protagonistas da série de filmes “Jurassic Park”.

Esta família é reconhecível pela sua cabeça alongada, como a de um crocodilo, em oposição ao crânio quadrado do T-rex. Algumas teorias relacionam esta morfologia à sua forma de caça, tanto em terra como na água: “Eram um pouco como cegonhas e garças, chapinhavam e pescavam peixes à superfície”, diz Chris Barker.

Os fósseis foram descobertos na costa sudoeste da ilha, numa formação geológica do tipo lagunar que revelou um estrato histórico até então desconhecido: “Isto ajuda-nos a representar as condições de vida destes animais naquela época”, acrescenta o investigador.

Nesta ilha, a equipe de cientistas já descobriu duas novas espécies de espinossauro, incluindo o Ceratosuchops inferodia, apelidado de “garça do inferno”.

A descoberta do predador “fortalece o nosso argumento de que esta família de dinossauro teve origem na Europa Ocidental e se diversificou lá, antes de se espalhar para outros lugares” do planeta, acrescentou o co-autor do estudo, Darren Naish: “A maioria destes fósseis extraordinários foi encontrada por Nick Chase, um dos caçadores de dinossauros mais habilidosos que alguma vez conhecemos. Nick morreu pouco antes do início da epidemia de Covid-19”, disse Jeremy Lockwood, da Universidade de Porthmouth, também co-autor do estudo.

O coleccionador doava sempre os seus achados aos museus, dizem os paleontólogos.

 

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