A Universidade de São José lançou na segunda-feira a plataforma “Português à Vista”, um instrumento didáctico que faz uma forte aposta em conteúdos audiovisuais e visa o reforço das competências de compreensão oral de quem aprende o idioma de Camões como língua estrangeira. A nova plataforma teve como ponte de partida a realidade e as necessidades dos alunos de Macau, mas a dimensão lusófona não está esquecida, garante João Paulo Pereira, professor da Faculdade de Artes e Humanidades da USJ e mentor do projecto.
Com a plataforma “Português à Vista”, a Universidade de São José reconhece a importância crescente da tecnologia no domínio do ensino das línguas, uma tendência que se acentuou com a pandemia de Covid-19. De que forma é que esta nova plataforma se distingue das demais já existentes?
João Paulo Pereira: A pandemia veio de facto reforçar a importância das novas tecnologias aplicadas ao ensino, particularmente ao ensino de línguas. Digamos que esta era já uma área que estava em crescimento e que se acelerou com a pandemia. O projeto “Português à Vista” veio, portanto, confirmar que a aposta na área das tecnologias educativas é acertada.
Falando mais especificamente desta plataforma, trata-se de uma plataforma programada de raiz e que pretende responder a uma das maiores dificuldades de quem aprende o Português como Língua Não Materna (LNM) e que tem a ver com a compreensão de textos orais. É uma plataforma especificamente de materiais audiovisuais, organizados por nível de proficiência linguística (do nível A1 ao nível C1) e por temas, com propostas de actividades pensadas para desenvolver a compreensão do oral, não existindo, que eu saiba, outra deste género no âmbito do ensino e aprendizagem do Português.
Depois, a abordagem didáctica seguida é diferente da habitual. Não se limita apenas aos tradicionais exercícios de verdadeiro e falso e de preenchimento de espaços. São propostas também actividades para levar quem aprende a reflectir sobre as melhores estratégias a usar para compreender o que ouve. Há por exemplo questionários de auto-reflexão, no fim de cada sequência didáctica, em que o aluno é confrontado com as estratégias que utilizou ou não. Este é apenas um exemplo deste tipo de actividade.
Finalmente gostava de destacar a possibilidade de o aluno poder criar os seus próprios exercícios. Basta ter a transcrição do texto que quer trabalhar (por exemplo a letra de uma canção) e a plataforma gera automaticamente o exercício.
A quem se destina esta nova solução educativa? Apenas aos alunos da USJ? Ou pode ser consultada por qualquer outra pessoa com interesse em aprender português?
J.P.P: A plataforma “Português à Vista” destina-se em primeiro lugar aos professores e alunos da USJ. Há funcionalidades da plataforma só disponíveis no âmbito da USJ, como a possibilidade de o professor criar turmas. Mas também pode ser consultada por qualquer pessoa que ensina e aprende Português.
A plataforma “Português à Vista” faz uma aposta muito forte nos conteúdos audiovisuais. A que tipo de recursos podem os utilizadores aceder?
J.P.P: Há vários tipos de recursos audiovisuais, como documentários, videoclipes, curtas-metragens, notícias, etc., a partir dos quais foram preparadas as sequências didácticas. Trata-se de materiais autênticos, isto é, que não foram criados especificamente para o ensino e que apresentam a língua tal como ela é usada. E quem aprende Português quer compreender o que vê na televisão ou no telemóvel ou em relação à música que ouve. Um aspecto que gostava de salientar é o facto de haver muitos vídeos legendados e de o aluno ter acesso também à transcrição, o que ajuda muito à compreensão.
De que forma está a plataforma estruturada? Foi concebida com o propósito de complementar o ensino em sala de aula? Ou os materiais tornam possível uma aprendizagem autónoma?
J.P.P: A plataforma pode ser utilizada numa lógica de aula, diria até de laboratório de línguas, mas também pode servir de apoio às aulas. Depende da forma como o professor tira partido dela. Ao mesmo tempo, a ideia é levar a que o aluno se torne mais autónomo em termos da sua própria aprendizagem, tirando partido das funcionalidades que a tecnologia lhe oferece. A abordagem didáctica seguida, que procura promover a reflexão do aluno em relação à forma como aprende, potencia também essa autonomia.
A plataforma foi idealizada e concebida tendo em conta a realidade de Macau e de eventuais alunos de matriz cultural chinesa? Ou foi pensada para um público universal?
J.P.P: Este é um projeto feito em Macau e para Macau, em primeiro lugar. Há muitos conteúdos sobre Macau. E há vídeos legendados inclusive em Chinês. No entanto, também serve o público em geral. Não por acaso todos os países de língua oficial portuguesa estão representados em termos de conteúdos. Se queremos que o Português seja de facto uma língua pluricêntrica e de comunicação global, os materiais didáticos devem refletir essa diversidade e essa universalidade. É essa a grande riqueza desta língua.
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